"Eternizar um momento da vida, projetá-lo ao futuro como modelo ou mera evidência do existir, fez do retrato uma prática comum desde os tempos neolíticos até a fotografia contemporânea. [...] Evidentemente, a imagem não está apenas determinada pela percepção individual, mas por uma instância coletiva que marca de que forma nos vemos e como somos vistos. Ainda no autorretrato, onde retratado e retratista coincidem, a dimensão pública se evidencia no modo que o artista escolhe para apresentar-se a si mesmo.
De que forma constrói esse relato para não ser um nu diante do espelho?
Desde muito cedo Iberê abordou o autorretrato. No 18 de agosto de 1940 – com esta precisão consta no desenho – o artista retratou-se de meio corpo
com o torso esboçado e nu. Era muito novo, tinha 26 anos, mas apesar da sua juventude o gesto era adusto, reconcentrado. Três anos depois, dois desenhos mostram ele mesmo como apenas um rosto com seu olhar fixo no espelho [tombos D0033 e D0036]. Com a cabeça levemente inclinada para baixo, o artista parece inquirir o espectador, do outro lado do espelho."
HERRERA, María José. Iberê Camargo: um ensaio visual. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2009. p. 14.
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