No decurso das décadas de 1850 e 1860 Edgar Degas realizou quinze auto-retratos existindo apenas duas obras, uma das quais esta pintura, onde o autor surge retratado a meio corpo. A outra tela desse formato, o primeiro trabalho importante realizado pelo pintor, conhecido por «Degas au porte-fusain» (Museu d’Orsay, Paris), foi executada em 1855 e inspira-se em «Retrato do artista» (Musée Condé, Chantilly), de Jean-Auguste-Dominique Ingres, de 1804. Uma fotografia tirada ao pintor (Bibliothèque National, Paris) na primeira metade da década de 1860, confirma a contemporaneidade da tela, uma vez que Degas aparenta em ambas as situações cerca de trinta anos de idade.
Do ponto de vista formal constatam-se duas referências significativas a assinalar: enquanto o par de luvas sugere um tributo evidente a Ticiano, o segundo plano da composição, com o espaço interior delimitado por linhas verticais e abertura para paisagem em fundo, evoca a tradição renascentista do retrato. Nesta representação de fatura inacabada, onde é bem visível a correção do desenho da cartola, o pintor, esboçando um gesto de saudação, coloca-se no papel de objeto de visão, surgindo como a personificação de um homem do seu tempo, cosmopolita e «flaneur».