Este é um dos mais enigmáticos painéis de azulejos da coleção do Museu Nacional do Azulejo. Uma galinha é transportada num coche, conduzido por um macaco, em frente do qual se encontram dois elefantes, o que confere à cena um sentido acrescido de exotismo. Em sentido oposto avança um cortejo triunfal com macacos a tocar diferentes instrumentos musicais. Sendo o macaco um animal que, no Ocidente e desde a Antiguidade, surge associado à sátira, é possível fazer uma leitura deste tipo de painel no contexto da Guerra da Restauração (1640-1668), criticando o inimigo ou os partidários do lado vencido. Por outro lado, a figura do macaco, passou a ser vista, a partir do Renascimento, como estando associada à noção de liberdade, o que pode inserir estas representações no mesmo contexto. Refira-se que este painel integrou uma das mais relevantes encomendas profanas da azulejaria portuguesa de seiscentos, a realizada para a Quinta de Santo António da Cadriceira, Turcifal, Torres Vedras, núcleo que não chegou na sua totalidade aos nossos dias e que se encontra atualmente disperso. Por estudo de Sílvia Seixas, sabe-se que esta Quinta pertenceu a Henrique Henriques de Miranda, Camareiro-mor de D. Afonso VI (r.1656-1683) e Tenente-Geral da Artilharia do Reino. Ora, pelo testamento de Manuel Francisco, redigido em 3 de março de 1667 (IAN/TT, Registo Geral de Testamentos, Livro 23, fls. 51v a 52v), sabemos também que Henrique Henriques de Miranda e o Conde de Castelo Melhor deviam dinheiro a este mestre de louça pintada. Admitindo que esta dívida fosse referente a uma encomenda de azulejos, pode-se colocar a hipótese de que, no que a Henrique Henriques de Miranda diz respeito, se tratasse dos painéis para a sua quinta de Santo António da Cadriceira. Nesse sentido, será possível fazer corresponder um acervo muito relevante da azulejaria seiscentista a uma das oficinas lisboetas coevas. Deste conjunto distingue-se, ainda, na coleção do Museu, a Caça ao Leopardo (MNAz, Inv. 137 Az).
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