Natureza Morta

Baltazar Gomes Figueira foi uma das mais notáveis personalidades da pintura peninsular do século XVII. Nasceu e faleceu em Óbidos, pai da célebre pintora Josefa de Óbidos.
Esta obra articula-se em volta de três temas, dispostos num espaço limitado e imerso numa intensa penumbra, iluminado à esquerda.
A luminosidade deste quadro é intensa e contrastante, na definição dos objetos situados nas zonas de penumbra.
A representação das virtudes teológicas faz-se através de quatro peixes e das uvas eucarísticas dispostas na mesa. Uma perdiz, um canário, um picanço verde e um pardal estão sobre a toalha amarrotada, aludindo aos vícios do homem.
À direita, sobre a toalha, os doces regionais, assim como uma taça de barro e uma salva de pé, em prata, minuciosamente executadas, ilustram de forma refinada as vaidades humanas.
A delicadeza do pincel, explícita no moldurado palpitante da luminosidade dos peixes e dos pássaros, dos doces regionais e dos barros, na transparência de certos detalhes, assim como na minúcia das gotas de água que colam no fundo do entablamento da mesa, perto dos peixes, revelam um artista que trabalha com a precisão do seu pincel, seduzido pelas transparências e que cultiva a elegância através da observação dos objetos, surgindo no contexto das naturezas mortas portuguesas do séc. XVIII, pelo seu programa, pela sua forte textura e pelo seu sistematismo formal. Uma obra da pintura naturalista dotada de uma força simbólica, que se aproxima do universo castelhano de Van der Hamen e dos pintores sevilhanos Francisco e Juan de Zurbarán.
Toda a cena é composta de finas camadas transparentes que acentuam a magia do claro-escuro dominante, e mostra uma certa influência de modelos castelhanos.