"Podemos constatar que as paisagens e os corpos que vão se desmaterializando, chegando a formas transparentes e que parecem gerar-se mutuamente, eram uma característica nos anos 90. A série Tudo te é falso e inútil tem basicamente a mesma estrutura: uma figura humana feminina de grandes proporções atravessa verticalmente a tela em seu lado direito. Seu corpo e esquematizado; como em Solidão, os rostos concentram um maior número de linhas e de tons, sendo focos privilegiados dentro do espaço. As pinturas são azuis, quase monocromáticas, embora se possa adivinhar uma cor mais quente abaixo da superfície, que aflora por momentos. Junto dos corpos, encontram-se alguns elementos que diferenciam uma tela da outra: uma bicicleta, talvez uma cadeira, apenas sugerida, e algumas formas não identificáveis. As figuras humanas presentes continuam, por sua vez, com características semelhantes às telas com o tema As idiotas. É como se os próprios corpos gerassem os que os sucederam; ou como se um único e mesmo corpo migrasse de uma tela à outra, provocando mutações na paisagem, criando-a, a cada vez, à sua medida."
CATTANI, Icleia Borsa. Paisagens de dentro: as últimas pinturas de Iberê Camargo. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2009. p. 24.
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