Obra maior, este duplo autorretrato mostra-nos o artista, face a face, em dois momentos da sua vida. Um jovem e altivo Rafael dá lume do seu cigarro para acender o cigarro de um velho e cordial Rafael, que lhe agradece levantando o chapéu. Esta cena de rua reúne dois tempos bem identificados nas datas e nos cabeçalhos dos jornais que levam, respetivamente, a sair da algibeira: O António Maria, 1879 e A Paródia, 1903, títulos notáveis da imprensa humorística que o artista lançou. Ainda sob o arco do tempo, os gatos confirmam a cronologia e completam o retrato do dono. Além do bom retrato físico e psicológico, interessa reter o que ele tem de significado ao pedir: «Faz favor, empresta-me o seu lume?», onde entrevemos o desejo de manter a chama da vida ou viva a criatividade, que em Rafael Bordalo são uma coisa só.