Numa composição planificada, Marguerite Gross Perroux, recorta-se de um fundo manchado de cinzas. Possivelmente inspirado no Rapaz do pífaro (1866), de Edouard Manet, pela ausência de um plano mediador entre a figura e o suporte, a personagem fixa frontalmente o artista. No seu olhar adivinha-se o autor, personalidade presente apenas na apresentação da sua primeira mulher. Casados em França em 1921, esta pintura terá sido realizada nesta década, que marcadamente referência estes anos pela sua modernidade, mas também pela jovialidade da retratada, o seu traje e corte de cabelo, bem como o acessório de penugem vermelha em forma de cabeleira, traduzindo a imagem de uma época e de um formulário pós-impressionista. Em linhas simplificadas, pinceladas breves, sobreposição de brancos e ausência de volume na figura, apesar de uma preocupação identitária, emerge uma blusa azul que assinala o título da pintura. Uma contenção ou inocência imediatista afirmam-se no olhar frontal e na pose das mãos mas, simultaneamente, convivem com a acumulação de significantes femininos. (Maria Aires Silveira)
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