Ao gosto maneirista pelo «irracional» e pelo exótico, veio juntar-se, na azulejaria do século XVII, o gosto português pelo exotismo encontrado em longínquas paragens, tornadas conhecidas pela expansão marítima. Após a Restauração da coroa portuguesa, em 1640, a nobreza tornou-se o principal encomendante de azulejos figurativos de temática profana, destinados a decorar espaços palacianos, quer em Lisboa quer no campo, refletindo o gosto e vida quotidiana deste grupo social, que dirigiu, desde o início, as viagens marítimas e as conquistas ultramarinas. Este painel de azulejos, que retrata uma cena de caça ao leopardo, é proveniente da Quinta de Santo António da Cadriceira, em Torres Vedras e é um exemplo perfeito do trabalho dos imaginativos artesãos das olarias lisboetas de seiscentos e dos gostos e interesses dos seus encomendantes, mostrando a natural fusão das tradições culturais europeias com as realidades estranhas e fascinantes dos novos mundos alcançados. Os pintores de azulejos trabalhavam a partir de fontes iconográficas gravadas, neste caso duas gravuras da série Venationes Ferarum, Avium, Piscium, editada em 1580 e 1596 por Philipe Galle, a partir de desenhos de Johanes Stradanus. Nesta cena de caça, copiada com algum rigor da gravura original, utilizam-se diversos tipos de armadilhas, destacando-se, em primeiro plano, a armadilha com um espelho, que parece ser eficaz com a captura de uma fêmea. Foi no entanto introduzida uma alteração face à fonte de inspiração. Os soldados europeus foram substituídos por indígenas, coroados de penas como os índios do Brasil.
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