O Gadanheiro, realizado em Évora na IX Missão Estética de Férias (iniciativas criadas pela SNBA e dirigidas por Dordio Gomes), é uma das pinturas inaugurais do Movimento Neo-Realista português, em ruptura com o panorama artístico e conservador da década de 40. O Modernismo interroga as suas possibilidades políticas no mundo português subjugado pelo fascismo e a pintura de Júlio Pomar terá sido a que mais profunda e consequentemente o fez. Partindo das diversas assunções dos Realismos das décadas de 30 e 40, sobretudo no contexto americano, encontrou diferentes possibilidades de produzir uma arte revolucionária e moderna. Em o Gadanheiro o ponto de vista do olhar do observador situa-se próximo do gadanho, que constitui o motivo central da pintura, enquanto que o corpo do trabalhador se distende expressivamente para os extremos da tela, desfigurando as proporções da mão e da perna. Estas distorções – valoradas em várias obras do Movimento Neo-Realista, de forma a realçar a instrumentalização do corpo pelo trabalho – remetem para referências internacionais de diversas proveniências, que vão da pintura de Cândido Portinari, no Brasil, recorrem curiosamente a um esquema de iluminação característico do cinema expressionista alemão e encontram na pintura realista de Thomas Hart Benton, nos eua do período da depressão, a sua mais directa relação. Esta manifesta-se no esquema cromático e sobretudo no movimento ondulante de toda a composição. A globalidade destes aspectos contribui para problematizar dinamicamente estes signos como informantes sociais, sobre a figura do Gadanheiro. Nesta pintura inscreve-se vigorosamente a noção de força de trabalho, aliada a uma forte consciência social, que liga uma posição estética à oposição política. (Pedro Lapa)
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