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Iberê Camargoc.1987

Fundação Iberê

Fundação Iberê
Porto Alegre, Brasil

Os desenhos realizados por Iberê durante suas idas ao Parque da Redenção, em Porto Alegre, evidenciam fortes preocupações de fixar, por meio deles, o instante fugidio, e de captar o mistério das coisas.
As árvores desgalhadas, surradas pelo vento, com galhos tortos, pelas quais Iberê tinha muito apreço, remetem à paisagem como a metáfora de um estado da alma.

"As contínuas reformas na nossa cidade – a cidade é a nossa casa – nos transformam em forasteiros. O progresso é uma ação de despejo em execução. Por isso, um belo dia, na temida velhice, sentimos a incontida vontade de voltar a nosso pátio, para reaver as nossas coisas que lá deixamos.
Procuramos, nesse retorno, o velho cinamomo que nos fornecia a munição – seus pequenos frutos – para as nossas guerras, a velha laranjeira onde tantas vezes nos encarapitamos, brincando de esconder, e, enfim, as coisas que compunham nossa paisagem. Aí sentimos vontade de abraçá-las, de beijá-las, de chorar e de fazer como os gatos, que alçam a cauda e ratificam a posse. Mas aí percebemos assustados que o gato não tem mais força e que as coisas não estão mais."
CAMARGO, Iberê; MASSI, Augusto (org.). Gaveta dos guardados: Iberê Camargo. São Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 103.

"O retorno efetivo da paisagem na obra de Iberê se dará através das composições dos anos 1980. São obras com figuras e fundo plenamente definidas, obras com um alto grau de complexidade na sua concepção e elaboração. Dois estudos [tombos D1025 e D2094] desse período exemplificam bem a função da paisagem em sua obra nesse momento: o estudo para Fantasmagoria IV é uma intricada teia de informações, sugerindo mais do que mostrando a paisagem, resultando num desenho áspero e tortuoso. O segundo desenho, sem registro de finalidade, é mais definido: vemos as árvores e o fundo distintamente, e esse nos permite uma imersão no universo da paisagem e também do trabalho por si, diante da riqueza do material utilizado, caracterizado por uma fatura espessa e aveludada.
Se o retorno da paisagem se dá de modo efetivo nesse período, ela não corresponde à paisagem topográfica dos anos 1940 e, mesmo, aquelas saudosistas dos anos 1970. A paisagem aqui, mesmo quando mantém os traços identitários de lugares, tem uma nova função: são registros sobre o estar no mundo e não de um lugar, ou locus, são representações de estados de alma, apontamentos sobre lugares, mas principalmente, retratos de outros lugares interiores: 'Nas telas de Iberê dos anos 90, as paisagens parecem ser geradas de dentro. De dentro do próprio pintor, de dentro dos corpos humanos presentes nas telas; como se fossem criadas a sua medida' [...].
GOMES, Paulo. Iberê e seu ateliê: as coisas, as pessoas e os lugares. Fundação Iberê Camargo: Porto Alegre, 2015. p. 126-128.

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  • Título: Sem título
  • Criador: Iberê Camargo
  • Data de criação: c.1987
  • Local de criação: Porto Alegre, RS
  • Dimensões físicas: 23 x 31 cm
  • Direitos: © Fundação Iberê Camargo
  • Meio: Grafite e lápis Stabilotone sobre papel
  • Registro: D2094
  • Foto: © Fábio Del Re_VivaFoto
  • Coleção: Acervo Fundação Iberê
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