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Sem título

Jorge Queiroz1994

Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos

Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos
Lisboa, Portugal

AS ESTRANHAS ENTRANHAS DE UM DESENHO
Os desenhos de Jorge Queiroz são um fluxo permanente, como se fossem fragmentos de uma interminável história visual. Num livro de Italo Calvino, Se numa noite de inverno um viajante, é levantada a hipótese de todos os livros, todas as histórias do mundo não serem mais do que fragmentos de uma enorme e infindável narrativa, contada por um velho, longínquo e secreto, onde todos os escritores iriam beber as suas ficções. Os desenhos de Jorge Queiroz parecem ser a demonstração em desenho dessa fonte inesgotável de pequenas narrativas visuais, alusões a situações cómicas, a corpos metamorfoseados, a espaços estranhos, a visões encantatórias ou terríveis, ou só indiferentes, ou quase indiscerníveis. Na sua obra parece não haver evolução, só transformação, metamorfose de uma coisa noutra, de um lugar noutro, de uma folha noutra.
Existe, evidentemente, a possibilidade de ligar a metodologia de trabalho de Jorge Queiroz à influência de Marcel Broodthaers, ou ao carácter visionário e surrealizante da arte belga, mas o carácter inconfundível da sua prática exclusiva do desenho (com esporádicas incursões na pintura e no vídeo) advém de uma inteligência visual que transforma o desenho numa visceralidade permanente, como se em cada folha se expusessem as entranhas de todos os seus desenhos anteriores e futuros.
Uma exposição de Jorge Queiroz é, portanto, uma incursão no interior do seu complexo processo de composição de imagens a partir de registos que variam entre a figuração de situações reconhecíveis e o doodle, entre o que reconhecemos como referências (as cortinas, os palcos, os espaços de museus e galerias, os corpos) e um emaranhado de linhas que definem tensões, percursos, fracassos ou pirrónicas vitórias.
Estes desenhos, na sua aparente espontaneidade, são muito mais do que isso: são quase-mundos, definindo- se continuidades entre as séries e no interior de cada uma. Possuem, claro, um humor próprio, por vezes estranho; outras vezes são jogos de signos visuais. São, sobretudo, fios que se podem percorrer nessa estranha, difícil, aparentemente intuitiva e muito sofisticada possibilidade de, sobre um papel, gerar formas que exorcizam a nossa compulsão de representar.

Delfim Sardo

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  • Título: Sem título
  • Criador: Jorge Queiroz
  • Data de Criação: 1994
  • Localização: Lisboa
  • Dimensões físicas: 100 x 71 cm
  • Tipo: Desenho
  • Direitos: © Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos
  • Material: Grafite e pastel sobre papel
  • Inventário: 373208
  • Fotógrafo: © Laura Castro Caldas / Paulo Cintra
Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos

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