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Sem título

José Pedro Croft1985

Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos

Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos
Lisboa, Portugal

OUTRO CORPO
Não é difícil descrever esta escultura de José Pedro Croft. É um paralelepípedo de gesso deitado sobre o tampo de uma cadeira Thonnet a que foram cortadas as pernas para assentar directamente no solo. Podemos repetir esta descrição exaustivamente que ela nunca esgotará a densidade desta escultura – muito mais do que os elementos simples que a compõem. Embora reconheçamos os elementos, eles não traduzem a estranheza do afundamento no chão que a cadeira parece ter sofrido pelo peso excessivo do paralelepípedo, como se fosse um monólito que demonstrasse brutalmente a força da gravidade. Neste período do seu trabalho, Croft usou muitas vezes mesas e cadeiras, objectos de mobiliário que fazem parte da nossa relação mais elementar com a casa, mas que são, também, metáforas tridimensionais do nosso corpo. As cadeiras são mesmo substitutos visuais para um corpo, não só pela evidente ergonomia, mas porque estão associadas a um conjunto de metáforas comuns sobre a ausência (a expressão “cadeira vazia” refere-se mais ao corpo que a não ocupa do que à cadeira em si mesma).
O uso de cadeiras amputadas ou serradas associadas a sólidos geométricos brancos equivale à contraposição entre o corpo humano a partir da sua memória (porque ausente) e a matéria do modernismo escultórico, abstractizado e assertivo. Existe, no entanto, um outro dado que vem à superfície da escultura de Croft neste momento e que reside na figuração da massa através do peso de uma forma compacta e inescapável. Por vezes, esta figuração do peso liga-se ao equilíbrio instável. Por uma forma ou por outra, o destino destas esculturas é dirigirem-se, por via da sua escala humana, à nossa percepção corporal, falando-nos sobre a natureza do escultórico sem nenhuma metáfora, sem nenhuma simbologia, sem nenhuma retórica. A sua intensidade deriva da sensibilidade corporal que activam, de nos colocarem como uma massa móvel num espaço face a outra que possui uma reminiscência humana no carácter figurativo do mobiliário que usam.
Depois destas obras, a escultura de Croft viria a usar frequentemente espelhos que nos sugam para o interior dos espaços das suas intervenções; viria a mudar desta escala corporal para uma outra escala, arquitectónica.
Em qualquer dos casos existe um carácter chocante e ao mesmo tempo profundamente humano, seja pela alteridade que nos oferecem, seja pela habitabilidade ou o desequilíbrio espacial que implicam.
A escultura de José Pedro Croft é sobre o nosso corpo e acredita que o espírito é parte dele.

Delfim Sardo

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  • Título: Sem título
  • Criador: José Pedro Croft
  • Data de Criação: 1985
  • Localização: Lisboa
  • Dimensões físicas: 180 x 58 x 60 cm
  • Tipo: Escultura
  • Direitos: © Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos
  • Material: Mármore
  • Inventário: 234956
  • Fotógrafo: © José Manuel Costa Alves
Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos

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