DESENHOS CINEMATOGRÁFICOS
Nos meandros do modernismo português, em torno da revista Presença, a figura de Júlio dos Reis Pereira (ou do seu pseudónimo literário, Saúl Dias) ocupa um lugar central – como o seu irmão, José Régio, aliás fundador da revista, com Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões. No entanto, a sua obra é mais conhecida pelas pinturas tardias da série Poeta, muito influenciadas pela figura tutelar de Marc Chagall. Buscando no seu passado artístico encontramos, no entanto, uma pintura e um desenho expressionistas, próximos de George Grosz.
São deste período os desenhos que pertencem à Colecção da Caixa Geral de Depósitos, nos quais uma figuração fluida executada a tinta-da-china vai construindo uma galeria de personagens que correspondem a estereótipos. O seu carácter caricatural, no entanto, é contrariado pela complexidade e violência dos espaços, numa visualização da cidade fragmentada que, nalguns casos, parece aproximar-se dos espaços de Walter Röhrig para o cinema expressionista alemão.
Esta dimensão cinematográfica dos seus desenhos do final da década de vinte e início da década seguinte marca um caminho que não foi suficientemente seguido na arte portuguesa anterior à guerra e, por isso mesmo, assinala um lugar raro que possui, no desenho, a sua expressão mais interessante e viva.
Delfim Sardo
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