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Sem título

Pedro Sousa Vieira

Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos

Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos
Lisboa, Portugal

DECLINAR O VERBO “DESENHAR”
No início dos anos noventa, Pedro Sousa Vieira tinha um ateliê em Braga, numa casa do início do século passado. Todas as divisões se encontravam vazias de móveis, mas as paredes estavam cobertas de desenhos em formato A4 a carvão. Numa das salas havia um estirador, um lugar exíguo para uma tal produção efectuada obsessivamente, todos os dias, de manhã à noite. O desenho tinha-se convertido em actividade absoluta desenvolvida como um processo infindo, realizado a carvão sobre papel, sempre em folhas da mesma dimensão. Terá feito mais de trinta mil desenhos, de que sobraram, depois do seu crivo apertado de selecção, trezentos. São o resultado, portanto, de uma destilação, de um processo de saturação e purificação até ficarem desenhos de desenhos, macerados, complexos, tortuosos, misteriosos, físicos, metamórficos, frágeis e afiados.
As folhas foram desenhadas de ambos os lados e, como acontece com as obras de arte e as pessoas, foram envelhecendo. O carvão foi sendo lentamente absorvido pelo papel e ténues fantasmas do outro lado da página vão surgindo à superfície, num processo entrópico que lhes dá corpo e espessura. Envelhecem bem, como os corpos que se vão conhecendo melhor com o tempo, mantendo a memória viva da tarefa gigantesca de que são testemunho. São, talvez, o conjunto mais impressionante de um projecto centrado no desenho realizado nos anos recentes, a par com o trabalho de João Queiroz, Ângelo de Sousa e Jorge Queiroz. Nos desenhos de Pedro Sousa Vieira há no entanto uma característica que os torna únicos: é que pretendem descobrir, no interior do próprio processo de desenhar, o que nasce da declinação deste verbo fora da análise da sua estrutura gramatical, porque não é de um ponto de vista analítico que foram produzidos, mas a partir de um abandono da consciência. Esta busca de um gesto puro do desenho é votada ao fracasso – e Pedro Sousa Vieira sabe-o tão bem que se desfez de noventa por cento da sua produção porque, em última instância, era necessário um julgamento crítico sobre esse mergulho que o tinha tomado.
Assim, os desenhos que pertencem à Colecção da Caixa Geral de Depósitos não são só (embora também o sejam) documentos de uma performance radical e íntima; são momentos de um processo demonstrativo de como o desenho é uma actividade sem contornos, uma prática, um contínuo, um mantra.

Delfim Sardo

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  • Título: Sem título
  • Criador: Pedro Sousa Vieira
  • Data de Criação: 1992
  • Localização: Lisboa
  • Dimensões físicas: 22 x 30 cm
  • Tipo: Desenho
  • Direitos: © Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos
  • Material: Carvão sobre papel
  • Inventário: 334350-334359, 334361-334364, 334366-334369
  • Fotógrafo: © José Fabião
Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos

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