O Negro e as Artes Plásticas no MAB

Representações sociais do negro e da cultura popular afro-baiana em pinturas, desenhos e xilogravuras de artistas que compõem o acervo do museu.

Baiana, de Emídio MagalhãesMuseu de Arte da Bahia

EMÍDIO MAGALHÃES

 A culinária com base no azeite de dendê tem o seu primeiro comércio com as quituteiras, ou “negras de ganho”, escravizadas e libertas, que vendiam comidas nas ruas ao longo dos séculos XVIII e XIX. Essas mulheres passaram a vender suas mercadorias em tabuleiros, dando origem às baianas de acarajé. No contexto sagrado, o bolinho de feijão fradinho, frito no dendê, é oferecido a Iansã e Xangô. Além dessa iguaria, vendiam mingau, peixe frito, bolos e cocadas. Embora tivessem que repassar grande parte do lucro para suas senhoras, as “escravas de ganho” podiam ficar com uma pequena parte do que recebiam, assim, muitas conseguiram comprar a própria alforria. Em 1992, foi criado em Salvador a Associação das Baianas de Acarajé e Mingau da Bahia (ABAM). O ofício das baianas de acarajé foi registrado como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo IPHAN, em 2005.

Retrato de Preto Velho (1926), de Óseas SantosMuseu de Arte da Bahia

Velho (1919), de Galdino Guttmann BichoMuseu de Arte da Bahia

Mãe Preta (1912), de Lucílio de AlbuquerqueMuseu de Arte da Bahia

LUCÍLIO ALBUQUERQUE

Praticou todos os gêneros pictóricos com desenvoltura, porém, preferia temas que despertassem reflexão. A obra Mãe Preta, exibida na Exposição Geral de Belas Artes de 1912, retrata a substituição do aleitamento materno pela ama de leite, prática muito comum no Brasil até o início do século XX. No período escravista, quando uma família precisava de uma ama, não havendo alguma disponível entre seus escravos, recorria-se aos anúncios de jornais para buscar alguma de aluguel, o que gerava bons lucros ao seu proprietário. A ama poderia ser oferecida com ou sem o seu bebê, sendo que a maioria não teve a oportunidade de amamentar o próprio filho e o do senhor ao mesmo tempo. Algumas crianças eram vendidas em separado da mãe, outras ficavam na casa dos senhores enquanto a mãe era alugada e muitas eram abandonadas na Roda dos Expostos. Após a abolição, o aleitamento cruzado passou a ser oferecido por mulheres negras livres e se estendeu a mulheres brancas humildes, muitas delas imigrantes portuguesas.

Rosto de negra (1950), de Carybé, Hector BernabóMuseu de Arte da Bahia

CARYBÉ

O pintor, desenhista, gravador e escultor Hector Julio Páride Barnabó nasceu em Lánus, Argentina, em 1911, e morreu em Salvador-BA, em 1997. Naturalizou-se brasileiro em 1957 e morou muitos anos na Bahia, onde participou ativamente do movimento de renovação das artes visuais. O artista, dotado de um traço inconfundível, ilustrou livros de Jorge Amado, Pierre Verger e Gabriel García Márquez. Produziu uma coleção de desenhos sobre religiosidade afro-brasileira e festas populares baianas para o Museu de Arte da Bahia. Os trabalhos aqui apresentados fazem parte desta série, composta por 253 desenhos, à bico de pena sobre papel, datada de 1950.

Lavagem da Igreja 2 - Série Bonfim (1950), de Carybé, Hector BernabóMuseu de Arte da Bahia

SÉRIE BONFIM

A Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim é uma celebração afro-católica tradicional, realizada desde 1745. Ocorre em janeiro, na segunda quinta-feira após o Dia dos Reis, integrando o calendário litúrgico e o ciclo de festas populares de Salvador. É dividida em diferentes momentos: as novenas, o cortejo, a lavagem, os ternos de Reis e a Missa Campal. O cortejo, ponto de destaque da festa, é iniciado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na Cidade Baixa, e culmina com a Lavagem das escadarias e do adro da Igreja do Bonfim, realizada por baianas e filhas de Santo, como missão familiar e religiosa.

Baiana (1950), de Carybé, Hector BernabóMuseu de Arte da Bahia

Lavagem da Igreja - Série Bonfim (1950), de Carybé, Hector BernabóMuseu de Arte da Bahia

Lavagem da Igreja 1 - Série Bonfim (1950), de Carybé, Hector BernabóMuseu de Arte da Bahia

Baiana Sambando - Série Bonfim (1950), de Carybé, Hector BernabóMuseu de Arte da Bahia

Samba - Série Bonfim (1950), de Carybé, Hector BernabóMuseu de Arte da Bahia

Flores do Ogã - Série Iemanjá (1950), de Carybé, Hector BernabóMuseu de Arte da Bahia

SÉRIE IEMANJÁ

A festa de Iemanjá, promovida pelos pescadores da Colônia da praia do Rio Vermelho, é a única festividade popular religiosa da Bahia que traz no nome um orixá e não tem intervenção católica. Inicia-se à meia-noite do dia 2 de fevereiro, no Dique do Tororó, quando são realizados os primeiros rituais da festa com a entrega da oferenda a Oxum. Às 5h da manhã tem início, no Rio Vermelho, o festejo em homenagem a Iemanjá, quando são ofertados os primeiros presentes pelos devotos. As oferendas são entregues até às 16h e expressam elementos ligados à vaidade, como perfumes, joias, pentes e, principalmente, flores. Nas ruas e praças ao redor do entreposto de pesca e da casa de Iemanjá, são montadas barracas que comercializam alimentos, bebidas e tocam diversos gêneros musicais, assim, o aspecto profano do festejo se entrelaça com sua dimensão sagrada.

Jangada - Série Iemanjá (1950), de Carybé, Hector BernabóMuseu de Arte da Bahia

Igreja de Santana - Série Iemanjá (1950), de Carybé, Hector BernabóMuseu de Arte da Bahia

Mães de Santo - Série Iemanjá (1950), de Carybé, Hector BernabóMuseu de Arte da Bahia

Baiana e Pescador (1950), de Carybé, Hector BernabóMuseu de Arte da Bahia

Levando o Balaio - Série Iemanjá (1950), de Carybé, Hector BernabóMuseu de Arte da Bahia

Oxalá (1969), de Emanoel Alves de AraújoMuseu de Arte da Bahia

EMANOEL ARAÚJO

Nasceu em Santo Amaro-BA, em uma tradicional família de ourives. Em 1959, realizou sua primeira exposição individual em sua cidade natal e, logo em seguida, ingressou na Escola de Belas Artes da Bahia (EBA), em Salvador. Expôs em várias galerias nacionais e internacionais. Ensinou Artes Gráficas e Escultura no Arts College, The City University of New York (1988). Foi diretor do Museu de Arte da Bahia (1981-1983) e da Pinacoteca do Estado de São Paulo (1992-2002). Fundou o Museu Afro Brasil, em 2004, onde é diretor e curador. Possui uma vasta produção que reflete suas raízes africanas, nagô e iorubá, bem como seu interesse pela cultura popular baiana, como se observa nos trabalhos a seguir.

Yemanjá (1969), de Emanoel Alves de AraújoMuseu de Arte da Bahia

Iyá Massê (1969), de Emanoel Alves de AraújoMuseu de Arte da Bahia

Xangô (1969), de Emanoel Alves de AraújoMuseu de Arte da Bahia

Omolu (1969), de Emanoel Alves de AraújoMuseu de Arte da Bahia

Otin (1969), de Emanoel Alves de AraújoMuseu de Arte da Bahia

Créditos: história

Ana Liberato
Diretora do Museu de Arte da Bahia

Equipe:
Camila Guerreiro
Celene Sousa
Mateus Brito
Olivia Biasin
Verônica Rohrs

Créditos: todas as mídias
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