Em plena ditadura, a poesia, o prazer e a crítica
A obra composta por Benetazzo entre 1968 e 1969, em um contexto de endurecimento da ditadura, não se restringe às representações em torno de um mal-estar associado à repressão.
Zu, quanto vale (em NCr$) esse desenho? (Sem data), de Antonio BenetazzoInstituto Vladimir Herzog
Sem título (1968-09), de Antonio BenetazzoInstituto Vladimir Herzog
Embora tenha produzido, durante esses anos, séries sobre as deformidades de seu tempo, também optou pela criação de desenhos nos quais o grotesco dava lugar a uma beleza formal associada à quentura das cores, às citações de poesias e às paixões carnais.
Em dezembro de 1968, no mês da proclamação do AI-5, Benetazzo compôs três trabalhos, nos quais predomina uma experiência formal rumo ao afeto, aos desejos eróticos e à celebração da existência.
Sem título (1968-12-23), de Antonio BenetazzoInstituto Vladimir Herzog
Nos desenhos Tabac, Que prazer ter... e La mañana llegó..., a vitalidade do viver surge a partir da transcrição de poemas e do encantamento visual composto com traços vibrantes e multicoloridos.
Hommage a mes élèves du ladê (1969-03-07), de Antonio BenetazzoInstituto Vladimir Herzog
A placidez e o belo, aspectos marcantes do estilo de Benetazzo nesse período, reaparecem com vigor em 1969, nas abstrações realizadas a partir do lápis de cor.
Roux (1969-07-07), de Antonio BenetazzoInstituto Vladimir Herzog
Hommage a mes élèves du ladê, Gallia est omnia..., K@² (I) e Roux são desenhos impregnados por um tom suave e sublime.
Perspectivas: Parati, Parati, Parati (1969-06-07), de Antonio BenetazzoInstituto Vladimir Herzog
Em junho de 1969, às vésperas de partir para o treinamento de guerrilha em Cuba, Benetazzo ainda criaria os trabalhos da série Perspectivas, intitulados Parati, Parati, Parati e Feira de ilusões.
Nesta colagem, na qual se apropria de supostos anúncios publicitários para ressignificá-los de modo ruidoso, o artista produz uma visualidade agressiva que provavelmente indica a sua postura crítica em relação ao mundo do consumo.
"Antonio Benetazzo, permanências do sensível" - Depoimento de Reinaldo Cardenuto - Parte IIInstituto Vladimir Herzog
Sem título | Autorretrato X (1971), de Antonio BenetazzoInstituto Vladimir Herzog
Desenhos na clandestinidade política
Em 1971, durante a clandestinidade, Benetazzo realizou um último conjunto de obras, composto por onze desenhos em torno das questões envolvendo a sua opção pela resistência armada.
No decorrer desse período, no qual colocou à margem o seu ofício como artista, comprometendo-se com as atividades políticas em oposição à ditadura, Benetazzo produziu três autorretratos em que desenhou o próprio corpo travestido ao modo de um guerrilheiro.
Sem título | Autorretrato VIII (1971), de Antonio BenetazzoInstituto Vladimir Herzog
À época, assumindo o nome Paulo, forjando um outro "eu" como forma de ocultar da ditadura sua identidade, se autorrepresentou com o semblante alterado pelo uso de um bigode, do cabelo com entradas e de um óculos.
Em sua última série, o artista criou obras atravessadas por uma abordagem positiva em relação à política como mediação dos anseios revolucionários.
Tomara que caia (1971), de Antonio BenetazzoInstituto Vladimir Herzog
Sem pender para a propaganda ideológica, algumas peças reverberam o entusiasmo de alguém que treinou guerrilha em Cuba (1970-71) e regressou ao Brasil com a expectativa de derrubar a ditadura.
O sentimento de potência, associado ao desejo de transformação, é forte em casos como O futuro já chegou e Queda.
Por outro lado, uma parte das obras também apresenta inquietações diante de uma existência próxima ao risco da morte e da violência.
BR 71 (1971), de Antonio BenetazzoInstituto Vladimir Herzog
Em BR 71, em que um guerrilheiro parece deixar para trás os familiares, o mal-estar se sobressai ao entusiasmo, tornando-se indício dos dilemas presentes na escolha por engajar-se em um projeto radical de resistência.
Sem título (1971), de Antonio BenetazzoInstituto Vladimir Herzog
Documentário: Entre Imagens - (Intervalos)Instituto Vladimir Herzog
"Entre Imagens (Intervalos)" é um filme-ensaio sobre a vida e a obra de Antonio Benetazzo, morto em 1972 pela ditadura militar no Brasil. Com direção de Andre Fratti Costa e Reinaldo Cardenuto, o documentário foi exibido em importantes festivais, como a 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes, Brésil en Mouvement (França) e o VII Festival Cinema de Fronteira - Pachamama, onde foi premiado na categoria Melhor Curta-Metragem.
Exposição "Antonio Benetazzo, permanências do sensível"
Realização
Prefeitura de São Paulo - Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania
Secretária | Eloisa Arruda
Secretária-adjunta | Yara Cunha Costa
Chefe de Gabinete | Eduardo Barbin Barbosa
Coordenação de Direito à Memória e à Verdade | Rogério Wagner da Silva Leite e Marina Molina
Instituto Vladimir Herzog
Diretor executivo | Rogério Sottili
Coordenadora de Projetos Especiais | Carla Borges
Comunicação | Carolina Vilaverde
Curadoria, organização, pesquisa e textos
Reinaldo Cardenuto
Adaptação
Carolina Vilaverde
Documentário Entre Imagens (Intervalos)
Andre Fratti Costa e Reinaldo Cardenuto
Agradecimentos especiais
Alipio Freire, Celso Nucci, Cida Horta, Daniel Fresnot, Eliana Ferreira de Assis, Ermínia Maricatto, Itália Benetazzo, Nordana Benetazzo, Luiz Carlos Poloni, Zuleika Alvim.
Agradecimentos
Ana Corbisier, André Luiz Rafaini Lopes, Anivaldo Padilha, Anna Ferrari, Ariana Iara de Paula, Arquivo Público do Município de Caraguatatuba, Carlos Augusto Calil, Celso Sim, Centro Cultural da Juventude, Centro Cultural São Paulo, Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, Clara Rossi Ferreira, Claudio Tozzi, Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo, Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça, Eduardo Oikawa, Equipe SMDHC, Equipe SMC, Eugênia Gonzaga, Eva Soban, Francisco Ramalho Jr., Grupo de Trabalho pelo Direito à Memória e à Verdade (GT-DMV), Imprensa Oficial do Estado S/A - IMESP, Ivan Seixas, Ivany Turíbio, Ivo Herzog, José Luiz Del Roio, Luiz Fernando Manini, Marcelo Godoy, Maria Aparecida Horta, Maria Eunice Paschoal Homem de Melo, Maria Rita Kehl, Mariana Rosell, Mario Prata, Nabil Bonduki, Paulo de Tarso Venceslau, Paulo Schlick, Paulo Reis, Renato Martinelli, Ricardo Ohtake, Ricardo Scardoelli, Roaldo Fachini, Rogério Sottili, Rose Mary Teles Souza, Samuel Ribeiro Jr., Sérgio Ferro, Sérgio Muniz, Suzana Lisboa, Thiago Carrapatoso, Toshio Kawamura, Valdirene Gomes, Valéria Barbosa Paganelli.
Concepção e realização da exposição original
Prefeitura Municipal de São Paulo - Fernando Haddad - Prefeito 2013-2016
Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania
Secretário | Rogério Sottili e Eduardo Matarazzo Suplicy
Coordenação de Direito à Memória e à Verdade
Carla Borges, Clara Castellano, Dyego Oliveira, Marília (Marie) Goulart, Fábio Luis Franco, Gabriela Monico, Naomi Xavier, Marina Molina, Tomaz Seincman, Victhor Fabiano.
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