Bonde da História – A Presença Negra no MHN

O Projeto Bonde da História foi criado com intuito de oferecer visitas mediadas com foco em temáticas geradas a partir do acervo e das exposições do MHN. Esta é a primeira versão online desse projeto, no qual manteremos a ideia central de diálogo e construção coletiva de conhecimento para transformação da sociedade. Numa visita do Bonde da História valem mais os questionamentos, os debates levantados e as reflexões que levamos para além da visita.

Projeto Bonde da História (2019-05-14) de Diogo TubbsMuseu Histórico Nacional

Bonde da História – A Presença Negra no MHN

Esta visita surge como uma reflexão sobre a forma como o acervo legado pela cultura afro-brasileira é representado nas exposições do MHN. Trata-se não apenas de valorizar este legado, mas de trazer uma nova perspectiva crítica sobre este acervo, revelando a forma como entra para o museu e também como ele pode ser útil para que os visitantes terminem a visita se questionando sobre o racismo e a condição dos negros na sociedade brasileira atual. Outra missão fundamental consiste em apontar ausências e contribuir para aquisição de novos acervos que representem o protagonismo das pessoas negras na história do Brasil.

Portugueses no mundo (2010/2013) de DesconhecidoMuseu Histórico Nacional

Quando se dá o início da presença negra em território brasileiro? Por que ela se deu? Foi um processo "espontâneo" de ocupação? O início do tráfico de pessoas negras oriundas da costa oeste africana estava inserido num amplo contexto comercial que envolvia diversas regiões do globo. Na vitrine em questão, os objetos nos ajudam a refletir sobre essa questão.

Painel - Rotas do Tráfico Negreiro - Exposição Potugueses no Mundo - MHNMuseu Histórico Nacional

A escravidão foi branda? Que elementos nos fazem pensar isso? Como podemos pensar de forma diferente? Os africanos se ofereciam para serem escravizados? O sequestro e escravização eram processos brandos?

Em que consistia a tentativa de destruição da humanidade dessas pessoas? Um dos métodos era o apagamento dos pilares que compunham sua identidade, como a imposição do nome cristão e a identificação através do nome do porto de onde partiram.

Os números do painel nos ajudam a ter uma dimensão do contigente de seres humanos traficados ao Brasil ao longo de mais de 3 séculos.

Depois que chegavam no Brasil para onde a maior parte desses africanos eram mandados? Quais as condições do trabalho nos engenhos? A exposição Portugueses no Mundo apresenta uma maquete de um engenho de cana-de-açúcar e à direita é possível observar alguns instrumentos de trabalho forçado presentes nas fazendas. Destaque para as formas de pão de açúcar (em primeiro plano) que eram utilizadas no refino da cana.

Batalha dos Guararapes (ex-voto) (1758) de DesconhecidoMuseu Histórico Nacional

Nesta cena da Batalha dos Guararapes, vemos um exemplo da idealização da construção do Brasil das “três raças”. Foi um processo pacífico? Houve uma constante igualdade de condições? Observe na pintura o espaço reservado para os portugueses, os negros e os indígenas. A centralidade portuguesa significa algo? Quem aparece em uma posição inferior?

Neste detalhe é possível observarmos um contingente do exército formado por negros escravizados que viam a possibilidade de receber alforria ao lutar ao lado dos portugueses. Destaque para o comando de Henrique Dias (16--/1662), negro liberto que comandava o contingente de escravos durante a batalha.

Mordaça, Barras de ouro, Moedas de ouro e cobre e Conjunto de medidas de capacidade.Museu Histórico Nacional

Um objeto que torna concreta a dialética entre resistência e controle. A mordaça era utilizada com fins de se evitar que os escravos engolissem pepitas ou pedras preciosas. A posse de uma destas significava a possibilidade de compra de alforria. Uma vez alforriado isso significava estar realmente livre?

Tronco de Castigo (Século 18) de Século XIXMuseu Histórico Nacional

Diante dos constantes castigos e torturas era preciso resistir e confrontar. O que eram os quilombos? Como os escravizados chegavam até lá? Morrer era uma forma de resistir?

D. João VI ouvindo o padre José Maurício ao cravo (estudo) (1880/1936) de Henrique BernardelliMuseu Histórico Nacional

Em certas circunstâncias, algumas pessoas negras conseguiam ascender socialmente ou ter garantidos mais direitos em virtude de suas atividades artísticas. Entre os séculos XVII e XIX algumas dessas pessoas ficaram famosas junto à elite portuguesa.

São João Evangelista (1780/1810) de Mestre Valentim da Fonseca e SilvaMuseu Histórico Nacional

Era preciso dominar as técnicas artísticas e os gostos estéticos europeus para poder agradar a corte e garantir melhores condições de vida.

Domingo de festa na fazenda (1920/1929) de Hans NöbauerMuseu Histórico Nacional

O Brasil é uma democracia racial? O que isso quer dizer? Racismo existe mesmo? Nós somos racistas?

Altar de Oxalá (2010) de Emanoel AraújoMuseu Histórico Nacional

No Brasil contemporâneo, a promoção e o reconhecimento de manifestações culturais de matriz africana se tornaram símbolo da luta contra o racismo e o preconceito. Essas manifestações são respeitadas? Elas se encontram em igualdade de condições com outras manifestações culturais?

Esta sala é a primeira da exposição Construção do Estado, que aborda desde o processo de independência até o início da república. Observe o acervo e busque elementos ligados à cultura negra. Qual o papel das pessoas negras e de seus descendentes neste processo? Tornar-se um país independente mexeu nas estruturas da sociedade brasileira?

As diversas formas de violência contra o corpo dos escravizados - a desumanização, o estupro e a bestialização do corpo negro - marcaram as relações dentro do sistema escravista como forma de subjugar e justificar a estrutura vigente na sociedade brasileira. A sala em questão se chama Riqueza e Escravidão - ao girar 360º, observe os objetos que representam a elite do país que sustentava seus hábitos e cultura na manutenção do sistema escravocrata.

Alegoria do Ventre Livre (Século XIX) de A. D. BressaeMuseu Histórico Nacional

Será que o dia 14 de maio de 1888 foi radicalmente diferente para muitas das pessoas negras no Brasil? A Lei Áurea é um ponto culminante de uma luta que se estendeu por anos e que teve diversos personagens conhecidos e anônimos. Passando por enfrentamentos, lutas, fugas, alforrias, leis... Mas tão importante quanto a lei, é observar como a sociedade brasileira manteve ou não certas estruturas mesmo após a assinatura formal de um documento. Como o país lidou com a inserção dessas pessoas na sociedade, na luta por direitos, nos processos de cidadania?

A caneta da Redentora (2010/2013) de Lau TorquatoMuseu Histórico Nacional

Quais objetos escolhemos para representar um momento histórico? Qual a importância simbólica dessa escolha? Quais objetos deveriam ser escolhidos? Quem os escolhe e por que entram para a coleção de um museu? Diante de um processo de inúmeras lutas, qual objeto representaria de outra forma a abolição da escravidão no Brasil?

A exposição Cidadania em Construção apresenta núcleos sobre diferentes direitos. Ao pensarmos sobre a representatividade negra na política hoje, percebemos que ainda estamos distantes de alcançar uma igualdade nesta questão. É possível desvincular esta baixa representatividade de toda estrutura escravocrata que o país teve por mais de três séculos? É possível desvincular isso da falta de políticas públicas que atacassem estas questões ao longo dos anos?

Créditos: história

Roteiro original do Bonde da História - A Presença Negra no MHN: Erika Azevedo e Stephanie Santana.

Roteiro adaptado: Aline Montenegro, Diogo Tubbs e Stephanie Santana.

Créditos: todos os meios
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