Duas linhas que se cruzam

A simbologia do edifício do Banco Central.

Brasília deu forma concreta ao ideal modernista de cidade, unindo arquitetura e urbanismo. A cidade também foi um sonho alimentado pelo desejo de mostrar que nós, brasileiros, poderíamos fazer algo além do nosso tempo, uma utopia convertida em planejamento.

Inaugurada em abril de 1960, a cidade, contudo, não estava concluída. Pelo contrário, ainda hoje ela continua sendo um esforço de materialização de um ideal urbano. Por isso, ao longo dos anos, Brasília foi sendo marcada por edifícios icônicos, que proporcionam uma nova visão da cidade e sua dimensão histórica.

Asa Sul e Eixo Monumental na década de 1960 (1957)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Asa Sul, sem o Edifício-Sede do BC

Erguido bem perto de onde o eixo monumental e o eixo rodoviário se cruzam, o Edifício-Sede do Banco Central é um destes marcos que alteraram o horizonte de Brasília. 

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1977)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Março de 1977

Até 2010, com seus 101 metros de altura, a sede do Banco Central foi o prédio mais alto do Distrito Federal e ainda é o mais alto do Plano Piloto.

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1978)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Maio de 1978

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1978)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Junho de 1978

Iniciada em 11 de agosto de 1975 e concluída em 20 de maio de 1981, a construção utilizou processos revolucionários para a engenharia brasileira da época.

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1975)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Novembro de 1975

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1976)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Foram tantos os detalhes que o Banco Central realizou três licitações: para a escavação das fundações, para a cortina atirantada e para a execução da obra do prédio.

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1975)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Novembro de 1975

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1976)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Abril de 1976

Em dezembro de 1964, a Lei nº 4.595 criou o Banco Central do Brasil. Seus serviços localizavam-se em prédios distintos no Rio de Janeiro e havia, na época, intenção de manter a autarquia naquela cidade. Contudo, a promulgação da Constituição de 1967 mudou o rumo da história, pois determinou “a complementação da mudança, para a Capital da União, dos órgãos federais que ainda permaneçam no Estado da Guanabara.

A transferência do Banco Central aconteceu em duas etapas: até julho de 1970, vieram a Diretoria e respectivos gabinetes; até dezembro de 1970, os demais setores do BC, exceto a Delegacia da Guanabara. A primeira reunião da Diretoria do Banco Central, em Brasília, ocorreu em setembro de 1970.

O Edifício-Sede foi ocupado oficialmente em setembro de 1981.
Antes da construção, o Banco Central chegou a funcionar em 12 locais diferentes, em Brasília. Os servidores da instituição estavam distribuídos por seis prédios localizados no Setor Comercial Sul, dois no Setor Bancário Norte e em 2 andares do edifício do Banco do Brasil, onde ficava a diretoria do Banco.

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1977)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

A princípio, cogitou-se construir o edifício-sede do Banco Central no Setor Bancário Norte, em lote doado pela então Prefeitura de Brasília, em outubro de 1967. Mas o Banco Central procurava lote com boa localização e dimensões necessárias para a construção do edifício.

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1978)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Em agosto de 1974, foi comprado terreno do Banco Nacional da Habitação (BNH), localizado no lote 33 do prolongamento do Setor Bancário Sul, ex-SQS 201, atual localização do edifício-sede. Essa foto é de janeiro de 1978.

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1978)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

O Banco Central teve um longo processo de maturação até a sua criação. Em 1808, quando o príncipe regente de Portugal, D. João, desembarcou no Brasil colônia, já se tinha a ideia de se criar um banco com funções de banco central. Em 1945, o governo do presidente Getúlio Vargas criou a Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), que preparou o cenário para a criação de um banco central. No dia em que Brasília foi inaugurada, a Sumoc realizou, na nova capital, sessão especial, registrada em ata.

Ata da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) Ata da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) (1960), de SumocMuseu de Valores do Banco Central do Brasil

Ata da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) Ata da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) (1960), de SumocMuseu de Valores do Banco Central do Brasil

O projeto arquitetônico do Edifício-Sede é de autoria do arquiteto Hélio Ferreira Pinto.

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1977)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Agosto de 1977

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1977)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Dezembro de 1977

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1977)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Vista do eixinho L, outubro de 1977   

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1978)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Mesma vista do eixinho L, um ano depois

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1978)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Fachada e casulo do Museu de Valores, junho de 1978

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1978)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Detalhe do casulo, onde hoje fica a Sala Ouro do Museu de Valores

O prédio possui seis subsolos, contados a partir da plataforma, e 21 andares superiores em balanço, que torna a concepção arquitetônica plástica e inovadora.

Construção do edifício do Banco Central em Brasília (1977)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Dezembro de 1977

Formato do prédio foi inspirado em moeda de ouro de 20.000 réis, do século XVIII.

Moeda de 20.000 réis, denominada "dobrão" Moeda de 20.000 réis, denominada "dobrão" (reverso) (1725)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

O arquiteto modificou geometricamente as pontas da haste de Cruz de Cristo gravada no reverso da moeda e conferiu-lhe formas mais quadradas, surgindo a forma do prédio. 

Já a ideia das torres, que abrigam os elevadores, nasceu dos quatro cantos da cruz, onde se vê as letras "M". 

Ordem Militar de Cristo - Grau de Grão-Cruz e ComendadorMuseu de Valores do Banco Central do Brasil

A Cruz de Cristo, vermelha com os braços verticais e horizontais simétricos, formando um quadrado, com uma cruz branca sobreposta, era o símbolo da Ordem Militar de Cristo, fundada pelo rei português D. Dinis, em 1317. 

Imperial Ordem de Nosso Senhor Jesus CristoMuseu de Valores do Banco Central do Brasil

A Ordem de Cristo originou-se, em Portugal, da Ordem dos Templários, famosa por suas participações nas Cruzadas. Os templários colaboraram com os reis portugueses na luta contra os mouros e foram fundamentais para o surgimento do reino de Portugal.

Por isso, a Cruz de Cristo tornou-se um dos símbolos nacionais de Portugal e aparece em várias moedas, ao longo dos sucessivos reinados.

Moeda de tostão LV (100 réis), reinado de D. Manuel I (reverso) (1495-1521)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Reinado de D. Manuel I, 1495-1521

Moeda de 500 reais, reinado de D. Sebastião (reverso) (1557-1578)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Reinado de D. Sebastião, 1557-1578

Moeda de 100 réis do reinado de D. João IV Moeda de 100 réis do reinado de D. João IV (reverso) (1641)Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Reinado de D. João IV, 1640-1656

Cédula de 10 mil réis (anverso) (1888), de Tesouro NacionalMuseu de Valores do Banco Central do Brasil

O símbolo também foi incorporado à bandeira e ao brasão de armas do Império do Brasil, junto com a esfera armilar dentro do colar de estrelas.

E moedas brasileiras republicanas também mostram o símbolo.

Moeda comemorativa de 400 réis - IV Centenário do Descobrimento do Brasil (anverso), Tesouro Nacional, 1900, Da coleção de: Museu de Valores do Banco Central do Brasil
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Moeda comemorativa de 400 réis - IV Centenário da Colonização do Brasil (reverso), Tesouro Nacional, 1932, Da coleção de: Museu de Valores do Banco Central do Brasil
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A Ordem de Cristo foi a principal financiadora das expedições marítimas portuguesas, por isso a cruz vermelha e branca ornamentou as velas das naus na época dos descobrimentos. Devido a essa herança histórica, hoje existem vários municípios brasileiros que possuem a imagem da cruz na sua bandeira ou no seu brasão.

Camisa da seleção brasileira de futebolMuseu de Valores do Banco Central do Brasil

A imagem estilizada da Cruz da Ordem de Cristo também pode ser vista no escudo oficial da CBF, na camisa da seleção brasileira de futebol.

Brasília foi definida por Lucio Costa como um sinal da cruz. Na sua proposta original, o arquiteto e urbanista diz expressamente: “Nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz”.

O Edifício-sede do Banco Central, com seu formato inspirado numa cruz e as quatro torres, remete-nos a esse desenho de Brasília, cujo Plano Piloto foi dividido em quatro escalas - monumental, residencial, gregária e bucólica -, cortado por dois eixos que se cruzam.

Moeda comemorativa de 3 reais - 30 anos do Banco Central (reverso), Banco Central do Brasil, 1995, Da coleção de: Museu de Valores do Banco Central do Brasil
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Moeda comemorativa de 10 cruzeiros - 10 anos do Banco Central (reverso), Banco Central do Brasil, 1975, Da coleção de: Museu de Valores do Banco Central do Brasil
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A cidade reúne a simbologia da cruz e do pássaro, a inaugurar uma nova era, como nos descobrimentos; o prédio reúne a simbologia da cruz e do quadrado, ao mesmo tempo um incentivo à coragem e ao esforço pela vitória, como nos cruzados, e um marco arquitetônico de solidez, sobriedade e estabilidade.

Créditos: história

Referência do vídeo
EDIFÍCIO-SEDE 35 anos. 2016. Banco Central do Brasil. Documentário, 15'10''. Disponível aqui. Acessado em: 3 mar 2021.

Créditos
Imagens: acervo do Museu de Valores do Banco Central do Brasil; Arquivo Público do DF (foto da Asa Sul); coleção particular (camisa)
Concepção, redação e montagem da exposição: Denir Mendes Miranda
Colaboração: Karla Santos de Sá Valente, Elaine Cristina Kimura, Edgar Charles Yang
Camisa da seleção brasileira pertence a Lauro Koichi Yamamoto
Realização: Banco Central do Brasil | Departamento de Promoção da Cidadania Financeira - Depef | Divisão do Museu de Valores

Créditos: todas as mídias
Em alguns casos, é possível que a história em destaque tenha sido criada por terceiros independentes. Portanto, ela pode não representar as visões das instituições, listadas abaixo, que forneceram o conteúdo.
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