Ex-votos em Portugal
O termo latino “ex-voto” designa uma oferta votiva em agradecimento a uma entidade sagrada por um evento tido como miraculoso.Tal como podemos verificar no conjunto de ex-votos aqui selecionados das coleções do Museu de Arte Popular e do Museu Nacional de Etnologia, essa expressão da religiosidade popular decorre, frequentemente, da recuperação de uma doença ou de qualquer outra situação de risco de vida, como por exemplo a ameaça de naufrágio. Menos comuns, tais agradecimentos podem decorrer da exposição a riscos de ordem social, como o revela aqui o ex-voto de um padre, salvo de difamação. A prática da oferta deste tipo de ex-votos, os painéis gratulatórios, pintados por artistas populares encontrou-se amplamente generalizada em Portugal a partir do século XVIII e XIX. A partir de finais do século XIX, esta forma de devoção popular transforma-se com o abandono da pintura a favor da fotografia. Presente até à atualidade, esta utilização da fotografia como ex-voto ganhou particular dimensão entre as décadas de 1960/70, com as ofertas das fotografias dos soldados que regressaram salvos da guerra nos então territórios do Ultramar. Em Portugal os ex-votos encontram-se espalhados pelo país fora em santuários com este.
Painel gratulatório - N. Senhora do Carmo (1851) de Autor desconhecidoMuseu Nacional de Etnologia & Museu de Arte Popular
Este ex-voto a N. Senhora do Carmo, pintado sobre madeira, datado de 1851, foi feito agradecimento de um casal (Francisco Martins e Maria da Conceição) pela total recuperação da saúde da sua filha (Vicência de Jesus), conforme inscrição na secção inferior da pintura: “Milagre q fes Nossa Sra. do Carmo a Fran.co Martins a Maria da / Conceçao. Que tendo huma filha Vicencia de Jejus em perigo de vida elles / se pegarão. com a Mai Samticima e ella foi servida darlhe perfeita saude 1851”.
Painel gratulatório a N. Senhora das Dores (1818) de Autor desconhecidoMuseu Nacional de Etnologia & Museu de Arte Popular
Esta oferta a N. Senhora das Dores, pintado sobre madeira, datado de 1818, for feito em agradecimento de um crente não identificado pela recuperação da sua filha doente, conforme inscrição na secção inferior: “Huma pessoa d'qua [texto ilegível] que pegando-se com a Senhora / das Dores por ter huma sua filha duente foi a Snra. / Servida ápola boa. Anno de 1818”.
Painel gratulatório com o São Sebastião (1839) de Autor desconhecidoMuseu Nacional de Etnologia & Museu de Arte Popular
Um ex-voto a S. Sebastião, pintura sobre madeira, datado de 1839, em agradecimento pela salvação do ataque de fogo cercado sofrido no Porto por Manuel de Joaquim de Carvalho, conforme a seguinte inscrição na secção inferior da pintura: “Milagre que fes S. Sebastião, a M.el Joaqm de Carv.o do Hospital / q' vendo-se atacado em todas as Coins, que se fizerão na situação do / Porto, recorreu a S. Sebastião, q' lhe valesse e ovindo os seus rougos, o librou / em todos os ataques. Anno de 1839”.
Painel gratulatório (Século 19) de Autor desconhecidoMuseu Nacional de Etnologia & Museu de Arte Popular
Este ex-voto, pintado sobre madeira, datado provavelmente do século XIX, representa uma mulher, três rapazes e um homem, ajoelhados e de mãos postas, agradecendo a N. Senhora pelo “livramento d’ser soldado hum filho”, conforme inscrição na secção inferior da pintura, parcialmente ilegível.
Painel gratulatório a N. Senhora do Carmo (Século 19) de Autor desconhecidoMuseu Nacional de Etnologia & Museu de Arte Popular
Ex-voto a N. Senhora do Carmo, pintado sobre placa de metal estanhada, datado de 1875, em agradecimento de Joaquim Torixa e sua família, moradores em Évora, pela recuperação de saúde daquele, após a sua queda de um andaime, conforme inscrição na secção inferior da pintura.
Painel gratulatório - N. Senhora da Conceição (Século 19) de Autor desconhecidoMuseu Nacional de Etnologia & Museu de Arte Popular
Este ex-voto a N. Senhora da Conceição, (não datado), mostra uma mãe e o seu bebé recém nascido. Foi feito em agradecimento de Manuel Joaquim pela recuperação da sua mulher de complicações havidas durante o parto, conforme inscrição na secção inferior da pintura: “Milagre q fes N. Sr.ª da Conceição […] da Igrejinha, a Manuel Joaquim, a Sua Mulher da F.ª […] / gravemente doente Com grande fé se pegou com a Mai Santíssima se / sua mulher pariçe embem e lhe melhoraçe de lhe dar hum retábulo assim foi a Sr.ª Servida no me/smodia em q a Mulher começou a ter as dores de parir [...] por obra da Senhora.”
Painel Gratulatório a N. Senhora da Encarnação (Século 18-19) de Autor desconhecidoMuseu Nacional de Etnologia & Museu de Arte Popular
Ex-voto a N. Senhora da Encarnação, pintado sobre madeira, não datado, em agradecimento de Carlos Ferreira, por se ter salvo de queda da altura de 50 palmos, enquanto reparava a cobertura da sua casa, conforme inscrição na secção inferior da pintura: “M. Q. fez N. Sra. Daencarnação a Carllos Frª q estando a emadeirar sua / caza cahio da altura de cincoenta palmos e ferindoce em trez vigamentos e sem / esperança de vida chamou pella Sra. e lhe valleo e alcancou as melhoras […].”
Painel gratulatório a N. Senhora da Atalaia (1894) de Autor desconhecidoMuseu Nacional de Etnologia & Museu de Arte Popular
Esta oferta votiva a N. Senhora da Atalaia foi feita por uma tripulação de embarcação pela salvação de (provável) naufrágio a 11 de novembro de 1894.
Painel gratulatório N. Senhora das Relíquias (1832) de Autor desconhecidoMuseu Nacional de Etnologia & Museu de Arte Popular
O ex-voto a N. Senhora das Relíquias, pintado sobre madeira, datado de 1832, em agradecimento pela salvação de Feliciana Rosa de complicações ocorridas no parto, conforme inscrição na secção inferior da pintura: “M. q fes N. S. das arrelicas a Feleciana Roza em o mês de Novembro d' 1832 / Em huma grande enfermidade em que sevio no parto q teve; e pelos Rogos de / seu Marido e filhos foi N. S. servida livrála da Morte e perigo”.
Aqui temos um trompe-l'oeil naive em que a cama foi pintada por de cima da moldura para criar um efeito de profundidade.
Painel gratulatório - Santo António (Século 19) de Autor desconhecidoMuseu Nacional de Etnologia & Museu de Arte Popular
Esta oferta foi feita pelo Padre António Ribeiro a Santo António, conforme a seguinte inscrição na secção inferior da pintura: “Milagre qve fes S. An.tº ao padre / Fr.cº. Ribr.º na sidade do porto de hum testemunho / falso de almas defezas e apegandose com o St.º / mostrou a sua verdade.”
Painel Gratulatório a N. Senhora da Encarnação (1748) de Autor desconhecidoMuseu Nacional de Etnologia & Museu de Arte Popular
Terão sido estes eventos resultado de intervenção divina ou sorte, a verdade é que nunca saberemos.
No entanto, este ex-votos não deixam de ser importantes registos de religiosidade popular nos sécs. VIII e XIX. São ainda uma janela importante para os interior domésticos deste período, tema raramente abordado pela arte Portuguesa mais erudita.
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