Sacerdote ou kannushi (2019) de Sylvie PimpaneauMuseu do Oriente
Festas e Rituais
Ao longo do ano, realizam-se no Japão inúmeras festas e rituais tradicionais de natureza religiosa, de grande importância social e cultural.
A exposição Japão: Festas e Rituais dá a conhecer estas celebrações e a sua importância na consolidação da identidade de cada comunidade.
Susanoo no Mikoto and Inadahime awaiting the 8-headed serpent, from the series Mirror of Famous Generals of Japan (1885) de Artist: Tsukioka Yoshitoshi, Publisher: Funazu ChujiroSmithsonian's National Museum of Asian Art
A lenda diz que ...
Uma terrível inundação terá separado o deus Susanoo da deusa Inada-hime.
As calamidades persistiram e a culpa foi da separação dos dois. É por isso que todos os anos a sua união é celebrada num casamento simbólico para os apaziguar e obter proteção e fertilidade.
Província de Nara, sul de Osaca
A festa realiza-se entre duas localidades vizinhas, que distam cerca de 1 km, separadas pelo rio Hatsuse. Em Etsutsumi constrói-se a corda masculina e em Onishi a corda feminina. Encontram-se perto do torii na imagem, à entrada do santuário Kasuga.
Santuário Kasuga em Etsutsumi
No dia 9 de fevereiro, logo de manhã bem cedo, cada família de Etsutsumi leva fardos de palha de arroz para o Santuário Kasuga, para que se possa dar início à construção da corda masculina.
O santuário é dedicado à divindade Susanoo, que a corda masculina simboliza.
Corda masculina (2019) de Sylvie PimpaneauMuseu do Oriente
Corda masculina ou Ozuna
A corda masculina, ou Ozuna em japonês, tem a forma de um cone, cuja evocação fálica não oferece dúvidas. O diâmetro é de cerca de dois metros, o comprimento de quatro a cinco metros e uma longa cauda de cerca de 40 metros, pesando no total aproximadamente 600 quilos.
Santuário Ichikishima, Onishi
No dia seguinte, dá-se início à confecção da corda feminina, mas só depois de um representante de Onishi verificar o tamanho da corda masculina.
O Santuário Otsuna, localizado dentro do Santuário Ichikishima, é dedicado à deusa Inada-hime que, segundo a lenda, foi separada do deus Susanoo.
Otsuna-do (2019) de Sylvie PimpaneauMuseu do Oriente
Otsuna-do, um local sagrado
Um telheiro de madeira, o otsuna-do, é dedicado à preparação da corda feminina. São feitas cordas de cerca de dez metros, que são dobradas num círculo em alusão ao órgão genital. Numa das extremidades, uma corda simples, servirá de guia durante a procissão.
Abertura da corda feminina (2019) de Sylvie PimpaneauMuseu do Oriente
Corda feminina ou Mezuna
A estrutura principal é envolvida numa corda de enrolamento e, depois de terminada, é instalada na direção auspiciosa do ano, definida de acordo com o signo do zodíaco do ano que agora começa. Fica a aguardar a procissão que terá lugar no dia seguinte.
Construção das Cordas
Preparação para a procissão (2019) de Sylvie PimpaneauMuseu do Oriente
Habilidade e complexo enrolamento e torcimento
A construção das cordas é um trabalho fastidioso, que requer a sabedoria dos mais velhos. O processo é semelhante para as duas cordas. Os fardos de palha são primeiro ligados uns aos outros, formando cordas que depois são enroladas e torcidas.
Os participantes que transportam o corpo principal da corda estão vestidos com trajes festivos.
Traje dos carregadores (2019) de Sylvie PimpaneauMuseu do Oriente
Banquete entre deuses e humanos
O ritual começa no dia 11 de Fevereiro no Santuário Otsuna em Onishi, com uma oração, seguindo-se o banquete naorai, que reúne deuses e humanos.
Desta forma os aldeões restabelecem os laços não só com as divindades, mas entre si.
A Procissão da Corda Feminina
Luta sumo (2019) de Sylvie PimpaneauMuseu do Oriente
Luta de sumo com muita lama
Num arrozal, dispõe-se a cauda da corda em círculo para a luta de sumo, um dos momentos altos da festa. Considera-se que o corpo coberto de lama está a convocar as entidades da terra, pelo que quanto mais lama, mais abundante será a colheita do ano.
Pausa depois da luta sumo (2019) de Sylvie PimpaneauMuseu do Oriente
É necessário restabelecer energias
O trajecto entre os santuários Otsuna e Kasuga tem apenas 1 km, mas a corda feminina é muito pesada, por isso são necessárias várias pausas para descansar. Tudo se passa num ambiente divertido, alegre e natural.
Abertura da corda feminina (2019) de Sylvie PimpaneauMuseu do Oriente
Preparação da cerimónia
O cortejo termina no santuário Susanoo, onde se juntam habitantes das duas localidades. A corda feminina é pendurada no local onde se vai celebrar o casamento.
O cortejo da corda masculina (2019) de Sylvie PimpaneauMuseu do Oriente
O chamamento do casamenteiro
O casamenteiro simula o cortejo amoroso e o diálogo provocante entre as cordas, para que se aproximem.
Após várias hesitações, a corda masculina junta-se finalmente à corda feminina, que lamenta a longa espera.
Inserção da corda masculina (2019) de Sylvie PimpaneauMuseu do Oriente
A união das duas cordas
A corda masculina é também presa a uma árvore e depois inserida na corda feminina. São amarradas com segurança para que não se soltem, simbolizando tornarem-se apenas uma. As mulheres que desejarem ter um filho irão ali apelar às divindades.
A união das pessoas e da natureza (2019) de Sylvie PimpaneauMuseu do Oriente
A união das pessoas e da natureza
A cerimónia reforça o vínculo entre os habitantes, mas também os laços de gratidão com a natureza, a terra, e as divindades.
Apesar do êxodo rural, do envelhecimento da população e dos diferentes estilos de vida, esta celebração continua a promover a identidade desta comunidade.
Pimpaneau, Sylvie, curadora da Exposição Japão: Festas e Rituais, in OTSUNA MATSURI, a celebração do casamento das cordas, 2023.
Nota: Em 2012 esta festividade integrou a lista do Património Imaterial da Humanidade da Japanese Agency for Cultural Affairs.
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