Portinari jovem (1921)Projeto Portinari
"... seu itinerário começa numa lapa de gente chamada Brodowski, São Paulo, Brasil, e termina no Rio em manhã de sol. Nascente e foz. Mas entre esses dois pontos, dois pertences, duas datas, (1903-1962, aqui jaz), cabe um mundo de mil voltas, europas, américas, amazônias. Um mundo de muita e muitíssima história: café e escravos, conquistadores e pedrarias, pau-ouro, Tiradentes, a fome e o livro. E essa será então a verdadeira chave, o registro, quero eu dizer, de um criatura que cobriu com o seu olhar safira uma imensa geografia de selvas, mulatos e rios arteriais: Brasil."
José Cardoso Pires, escritor português
Portinari e seus pincéis (1960), de David VestalProjeto Portinari
"Se um dia lhe viessem dizer: 'Portinari, não há mais pintura', o rapaz de Brodowski diria: 'Então vamos morrer'."
José Lins do Rego, escritor brasileiro
Portinari em seu ateliê (1944)Projeto Portinari
"O menino Candido Portinari saiu de minha terra com papel e côres em punho para a imensa aventura de pintar uma pátria.
Pintá-la, não: criá-la de uma realidade ignorada, mostrá-la aos quatro cantos do mundo, contorcida, ofegante, opressa, inaugural, como a dizer-lhe: ‘ — Somos assim’…
Um dia, seremos apenas os farrapos de narrativa de nossa existência. E mãos ávidas, mãos sábias do futuro virão recompor o que fomos, virão surpreender-se de nós. E do pó que seremos, retirarão o que beberam aqueles olhos e o que se escapou por aqueles dedos. E saberão que neste lugar existimos, porque ele inventou a nossa eternidade."
Guilherme Figueiredo, escritor brasileiro
Portinari e sua obra (1949)Projeto Portinari
"Candido Portinari nos engrandeceu com sua obra de pintor. Foi um dos homens mais importantes do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa gente. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade. A terra e o povo brasileiros - camponeses, retirantes, crianças, santos e artistas de circo, os animais e a paisagem - são a matéria com que trabalhou e construiu sua obra (…)"
Jorge Amado, escritor brasileiro
Portinari e sua obra (1943), de Jean ManzonProjeto Portinari
"A primeira vez que nos encontramos com este homem, baixo de estatura e de aspecto bastante modesto, e que olhamos os seus olhos celestes, e o ouvimos falar longamente, simples como uma criança, as crianças que ele ama acima de qualquer coisa, é difícil crermos estar diante do pintor mais terrível e mais trágico do nosso tempo. (...)
Nestes dias de desorientação, de funambolismos e de anemia, o exemplo da arte poderosa de Candido Portinari, tão rica de significado, de matéria e de sólida técnica, chega a nós como um bom vento vivificante, a demonstrar-nos que a grande veia latina não se exauriu, mas, ao contrário, enriquecida de novos temas, continua viva, também pelo mérito de um filho de emigrantes que ainda acredita que a pintura seja um ofício sério, árduo e útil aos homens."
Giuseppe Eugenio Luraghi, poeta, escritor e crítico de arte italiano
Portinari (1958)Projeto Portinari
"Esse artista imenso que tinha, sem dúvida, uma centelha divina e se conservou eternamente criança.
D. Helder Câmara, arcebispo emérito brasileiro
Portinari e sua obra (1944), de Kazys VosyliusProjeto Portinari
"Considero Portinari um dos maiores pintores do nosso tempo. Sua força é enorme. Na manhã em que vi o conjunto de suas telas experimentei tal emoção que fiquei possuído de uma verdadeira fadiga nervosa. Nessa tarde não pude trabalhar, achava-me realmente cansado."
René Huyghe, historiador e crítico de arte francês
Conservador-Chefe do Museu do Louvre
Portinari e sua obra (1959)Projeto Portinari
"Portinari é um homem emocionado. Emocionaram-no os homens e as mulheres do Brasil, trabalhadores e sofredores."
Otto Maria Carpeaux, escritor brasileiro
Portinari e sua obra (1947)Projeto Portinari
"Eis um artista que faz pintura não só por pintar, mas para libertar uma força lírica e dramática que contém em si aprisionadas. Sua obra não é especulação de “ateliê”, própria às discussões estéticas sem fim dos amadores e críticos.
Como os mestres de outrora, Portinari, em andaimes, pinta para os outros, em afrescos ou a têmpera, grandes conjuntos leigos ou religiosos de sua terra ou dos Estados Unidos.
Esses conjuntos não são "decorativos"; neles vivem seres associados entre si não por gestos gratuitos, geradores de arabescos e harmonias, mas pelo drama humano. Sozinho, no outro extremo do mundo, esse pintor brasileiro alcança expontaneamente o sentido social, cuja inquietação começa a despontar entre nós. Nele, todas as forças de expressão se defrontam como se seu coração encerrasse a virgindade de um mundo. De par com as telas em cores matizadas, impregnadas de ternura, outras de expressionismo pungente, cuja violência desmedida surpreenderá talvez este ambiente parisiense, habituado a ver respeitados, mesmo dentro da audácia, os cânones elaborados em trinta anos de especulações plásticas que constituem o "bom tom".
Violência que nasce da própria terra que a gerou, como um vento poderoso, essa terra exuberante dos trópicos, que tem a força de assimilar em uma única geração, os homens vindos de todas as partes do mundo, a tal ponto que conseguiu com elementos aborígenes e importados mais díspares, modelar uma unidade nacional surpreendente: o Brasil."
Germain Bazin, historiador e crítico de arte francês
Conservador-Chefe do Museu do Louvre, Paris
Portinari e seus pincéis (1943), de Jean ManzonProjeto Portinari
"Você é a alegria e a honra do nosso tempo e da nossa geração. Não sei se saberia dizer-lhe isso pessoalmente, mas encho-me de coragem nesta carta para exprimir uma convicção que é de todos os seus companheiros, os quais se sentem elevados e explicados na sua obra. Sim, meu caro Candinho, foi em você que conseguimos a nossa expressão mais universal, e não apenas pela ressonância, mas pela natureza mesma de seu gênio criador, que ainda que permanecesse ignorado ou negado, nos salvaria para o futuro."
Carlos Drummond de Andrade, poeta brasileiro
Portinari preparando as tintas (1943), de Jean ManzonProjeto Portinari
"A exposição de suas obras, que se realiza atualmente em Paris (1946) mostra a diversidade, a liberdade e a força de seu gênio. Portinari é certamente o maior pintor da América Latina e um dos maiores pintores contemporâneos."
Jean Cassou, francês, diretor do Museu de Arte Moderna de Paris
Portinari e as maquetes para os painéis da ONU (1955-11), de Antônio RudgeProjeto Portinari
"Surge-nos Portinari como um dos raros artistas que conseguiram a difícil síntese entre as expressões estéticas as mais modernas e as angústias humanas as mais intensas. Assim, em sua arte, se representa especificamente seu país de origem, ele ultrapassa singularmente e toma lugar entre os artistas cuja mensagem tem um valor internacional."
Raymond Cogniat, crítico de arte francês
Portinari (1956), de Francesco Florian SteinerProjeto Portinari
"...Ahora, en 1958, este hombre está en México, en el Museo Nacional de Artes Plásticas, ocupando la sala de honor que le ofrece un país de pintores. Lo que allí se exhibe es una bella selección, rigorosamente informativa. Que permite llegar a una profunda comprensión. De la ternura a la furia. Todo Portinari está presente: sus fieras, sus entierros, sus travesuras, sus temas decorativos y también los descarnadamente humanos… nadie puede perderse la oportunidad de verlo con esta abundancia y magnificencia en el lugar de honor que merecidamente ocupa actualmente en el corazón de Mexico, rodeado por los muralistas mexicanos que, como él, recrearon en el arte el valor humano y que introdujeron en la concepción artística general un criterio norteamericano."
Enrique Fernandez G, crítico de arte mexicano
Portinari e seus pincéis (1943), de Jean ManzonProjeto Portinari
"Portinari marcou, com seus Retirantes, seus Meninos de Brodowski, seus quadros de lavradores o abismo que ainda existe entre a natureza brasileira, entre o País brutalmente grandioso que nos surge à mente quando dizemos, como se disséssemos palavra mágica, “Obrasil”, e a vidinha que montou no Brasil o homem imitador da Europa e dos Estados Unidos.
Sua pintura daqueles tempos é um protesto contra essa falta de intimidade que existe entre nós e aquilo que se chama realidade brasileira. É um clamor contra o fato de ainda estarmos tão superpostos à paisagem e não vitoriosamente fincados nela, como estão os pés dos pretos, dos caboclos, dos tapuias, dos cafusos, dos curibocas e dos imigrantes."
Antonio Callado, escritor brasileiro
Portinari e seus pincéis (1947), de Annemarie HeinrichProjeto Portinari
"Diante destes choros, destes cavalos-marinhos, que falam ao mais profundo de minh'alma de brasileiro, me sinto em estado de absoluta inibição crítica. Tudo que posso fazer é admirar (…)"
Manuel Bandeira, poeta brasileiro
Portinari pintando os painéis para a ONU (1955), de Renata FrankProjeto Portinari
"Quando nós, intelectuais brasileiros, desanimamos de fazer alguma coisa que atravesse a grande muralha de silêncio atrás da qual vivemos confinados, devemos pensar em Portinari. Ele sozinho, à força de talento e trabalho, conseguiu irromper a crosta de isolamento, de ignorância, de desconhecimento que nos envolve, mostrando em Paris e New York qualquer coisa de realmente valiosa feita aqui. Machado de Assis, Villa-Lobos, Portinari. Pelo menos esses três já nos deixam tranquilos, pois à sombra deles podemos ficar certos de que há alguém para representar o Brasil."
Rachel de Queiroz, escritora brasileira
Portinari pintando (1952)Projeto Portinari
"Dizia-se materialista, mas os santos, decerto, não acreditavam. Quem pintou aquela maravilhosa Pampulha, quem tinha o dom de transmitir o místico num São Francisco, quem exprimiu, como só Candinho fez, a tortura e a vocação de santidade, em suas figuras, muito rezou através de seus pincéis."
Dinah Silveira de Queiroz, escritora brasileira
Portinari pintando (1945)Projeto Portinari
"É uma solução terrivelmente humana e dramaticamente social da plástica do nosso tempo. Tem-se a impressão que nele se salva a tradição, a tradição dos grandes ciclos de afrescos do Quattrocento, a tradição de Michelangelo, a tradição romântica e também a tradição romana, sem a qual a Renascença não teria sido mais do que um passatempo do espírito, mas por meios atuais, aqueles que em vão emprega Picasso, os que o Surrealismo inventou. Com efeito, nossa escola contemporânea do Ocidente, diante do Enterro na Rede, da Criança Morta, das Lavadeiras, nos parece apenas com um laboratório. Com Portinari, eis que ela entra na vida."
Michel Florisoone, crítico e historiador da arte francês
Conservador-Chefe do Museu do Louvre
Portinari pintando o painel da ONU (1955)Projeto Portinari
"Da última vez que vi Portinari, seus olhos estavam rasos d'água. Se não me engano, foi no Castelo; eu ia em busca de uma condução e ele vinha com sua Maria. Foi muito pouco o que dissemos. Estava magro; abraçou-me profundamente e disse: Imagine, não posso pintar mais, estou proibido pelo médico. Era a hora da tarde em que as coisas são iluminadas de través e os olhos azuis de Portinari com as lágrimas que não queriam descer me apareceram como se contassem também sobre sua obra imortal. Maria não deixou muito tempo para conversa; ele não deveria comover-se. Tive vontade de sair atrás dele e dizer: Você já nos deu tanto. Você já nos deu a obra mais grandiosa que um pintor pode oferecer à sua terra, já nos acumulou de uma riqueza que vai varar os tempos, por isso, pode descansar sem preocupação por não estar mais pintando. Eles já estavam longe e as palavras morreram no meu pensamento.
Só depois da morte de Portinari que eu estive na ONU e vi, no deslumbramento do apogeu de sua arte, o painel Guerra e Paz. Cada figura me apareceu facetada: astro ou pedra preciosa, com luz própria e eu tive vontade de dizer àquela gente toda que passeava pelo saguão, homens e mulheres vindos de todas as partes do mundo: Vejam vocês aí está nossa glória, aí está o painel de nosso maior pintor. Eu também nasci no Brasil como ele, Portinari…"
Dinah Silveira de Queiroz, escritora brasileira
Direção Geral: João Candido Portinari
Curadoria e Pesquisa: Maria Duarte
Textos: Projeto Portinari
Copyright Projeto Portinari
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