Paisagem de várzea (1637/1680), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Ao todo, são 8 pinturas de Frans Post pertencentes ao acervo do MNBA. A primeira a integrar o acervo foi Paisagem de várzea, adquirida em 1922, por doação do governo da Holanda.
Mocambos, Paisagem da Paraíba, Paisagem de Pernambuco, Olinda e Engenho de cana foram vendidas ao governo brasileiro por Djalma da Fonseca Hermes em 1941 e encaminhadas ao museu.
Igreja de São Cosme e São Damião em Igarassu foi comprada de Afrânio de Mello Franco, em 1942 e Vista de um engenho de cana de açúcar foi comprada de Mendel Wolf Einhorn, em 1950.
Paisagem de várzea (1637/1680), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Paisagem de várzea
Produzida muito provavelmente entre 1659 e 1669. Na tela, há muitos escravizados, homens e mulheres, que se deslocam do centro para
o canto inferior direito da tela. Parecem voltar de um dia de trabalho,
Paisagem de várzea (1637/1680), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
pois o céu tem um tom azul escuro de fim de tarde de um dia claro e ensolarado. Destaque para a região de várzea. Como interseção da várzea com o céu, a vista panorâmica da “cidade” e, possivelmente, o rio Capiberibe.
O céu ocupa praticamente dois terços da tela com uma linearidade que só é interrompida por uma árvore, no canto esquerdo, que esconde essa sua porção. Antes de chegar na vista da cidade, há um cinturão de vegetação.
Mocambos (1659), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Mocambos
É possível que Mocambos tenha sido produzida em 1659. Na tela, vemos um céu uniforme, com um tom amarronzado, que se harmoniza com o solo. O céu ocupa metade da composição.
Uma imensidão verde predomina na outra metade da obra, e só divide a cena com um pequeno espaço reservado ao solo avermelhado, onde se encontram as personagens.
Mocambos (1659), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
São um grupo de indígenas homens, portando armas de caça, e mulheres, rodeados pelos mocambos, habitações muito precárias, feitas de madeira e afastadas da estrutura do engenho, confundindo-se com a mata, para dificultar a captura.
Essa pintura é um importante registro das habitações e dos costumes de alguns dos grupos indígenas do Brasil.
Paisagem da Paraíba (1637/1680), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Paisagem da Paraíba
Produzida muito provavelmente entre 1659 e 1669, período em que Post já havia deixado o Brasil.
Novamente aqui, o céu preenche mais da metade da tela, mesclado entre o azul e o branco. Dessa vez, há leves tons de cinza no primeiro plano superior, indicando um prenúncio de mau tempo.
Paisagem da Paraíba (1637/1680), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Estamos mais próximos do povoado, com construções que são representadas em tamanho maior e com as personagens em primeiro plano. Todos escravizados pretos, homens e mulheres.
A vegetação é igualmente vasta e variada, perpassando os lados esquerdo e
Paisagem da Paraíba (1637/1680), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
direito do quadro.
Paisagem de Pernambuco (1660/1669), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Paisagem de Pernambuco
Foi produzida muito provavelmente entre 1659 e 1669, período em que Post já havia deixado o Brasil. Mais da metade da tela, em sua porção superior, é composta por um céu azul
com muitas nuvens características de um dia de tempo bom.
Paisagem de Pernambuco (1660/1669), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
O primeiro plano do quadro é permeado pela vegetação do local, tanto na porção direita
quanto na esquerda,
Paisagem de Pernambuco (1660/1669), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
que contrasta, por sua imensidão, com as pequenas dimensões dos escravizados, igualmente no primeiro plano da tela. Ao fundo, a representação da cidade, com suas construções típicas de uma área rural:
do lado esquerdo, uma construção grande que parece estar desativada.
Paisagem de Pernambuco (1660/1669), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
E no direito, uma construção que está mais próxima dos trabalhadores do que o restante da cidade.
Os escravizados são homens e mulheres pretos e pardos.
Paisagem de Pernambuco (1660/1669), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Olinda (1637/1680), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Olinda
Produzida muito provavelmente entre 1659 e 1669. Na tela, vemos um céu azul de muito claro e poucas nuvens toma mais da metade superior da tela.
No centro da tela, no plano mais próximo do espectador, há um grupo de escravizados pretos homens, mulheres e uma criança. Post se preocupou em representar as personagens com tons de peles diferentes nessa tela. Uns de pele mais negra e outros pardos.
Olinda (1637/1680), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Ainda no centro, um outro grupo de escravizados, pintados em menores proporções, marcando a ideia de perspectiva na obra.
A vegetação ocupa a porção esquerda do quadro no primeiro plano, enquanto o solo seco por onde as personagens caminham, como numa estrada, se harmoniza com as construções da cidade, que apresentam certo nivelamento na cor, representadas todas na cor branca.
Olinda (1637/1680), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
O mar aparece ao fundo, encontrando-se com o céu.
Engenho de cana (1660/1669), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Engenho de cana
Produzida muito provavelmente entre 1659 e 1669, período em que houve grande predileção de Post pelas pinturas que representavam os engenhos, talvez querendo enaltecer o sucesso da Companhia das Índias Ocidentais e atrair comerciantes de açúcar para adquirirem suas obras.
A vasta vegetação perpassa toda a tela.
Engenho de cana (1660/1669), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Os escravizados estão na porção central da obra, em primeiro plano.
Homens, mulheres e uma criança, que está sendo levada pela mão por um homem escravizado, enquanto ele caminha equilibrando um objeto com peso sobre a cabeça.
A tela apresenta algumas construções que compõem o engenho. O céu mantém um equilíbrio com o restante da paisagem e traz um tom mais alaranjado, que remonta à presença do sol iluminando toda a tela, além da harmonia com o amarronzado do solo.
Igreja de São Cosme e São Damião em Igarassu (1660/1669), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Igreja de São Cosme e São Damião em Igarassu
Produzida muito provavelmente entre 1659 e 1669. Essa igreja existe até hoje em Pernambuco!
A Igreja Matriz de São Cosme e São Damião teve a sua construção iniciada em 1535, ano em que o donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho, desembarcou em Igarassu para tomar posse de suas terras doadas pela Coroa Portuguesa. O templo foi finalizado no século XVII.
Igreja de São Cosme e São Damião em Igarassu (1660/1669), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Novamente aqui, o céu ocupa mais da metade da tela. Um céu azul que, apesar de muitas nuvens, de tipos variados, denota bom tempo e claridade, que contrasta com o escuro da porção inferior da obra.
Esta opção por contrastes de Post remonta aos recursos de luz e sombra, tão caros aos pintores holandeses.
Igreja de São Cosme e São Damião em Igarassu (1660/1669), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Escravizados pretos em primeiro plano, homens e mulheres, em um momento de descanso e descontração.
À esquerda, em meio à vasta vegetação, ruínas de uma construção de pedra.
A igreja está bem próxima da porção central da tela.
Igreja de São Cosme e São Damião em Igarassu (1660/1669), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
À direita, pequenas construções que parecem moradias.
Vista de um engenho de cana de açúcar (1660/1669), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
Vista de um engenho de cana de açúcar
Novamente, temos um céu que ocupa dois terços da composição de um dia claro, com muitas nuvens. Nesta tela, Post está representando muitas construções que envolvem o ambiente de trabalho e as residências senhoriais e escravas de um engenho.
Há habitações mais afastadas que também compõem a tela. Próximo ao centro da obra, ele representa a água, fundamental para a moenda.
Vista de um engenho de cana de açúcar (1660/1669), de Frans PostMuseu Nacional de Belas Artes
A vegetação tem um tom amarronzado que é muito semelhante à cor da terra, e a coloração verde nela é escassa.
Embaixo, no centro, estão as personagens: escravizados pretos, homens e mulheres – inclusive uma sentada – e uma criança. A cena sugere um final de tarde, pelos tons da composição e pelo comportamento dos escravizados, que parecem estar terminando a rotina de um dia de trabalho.
Frans Post: pinturas do acervo do Museu Nacional de Belas Artes
Curadoria:
Cintya Callado
Idealizada especialmente para o Google Arts & Culture, 2024
Referências:
BRIENEN, Rebecca. O envolvimento mitológico do Brasil Holandês: interpretação dos trabalhos de Albert Eckhout e Frans Post (1637-2011), 2012.
GOMES, Flávio. Mocambos e Quilombos: uma história do campesinato negro no Brasil, 2015 (Resenha de Wesley Matos e Bendito Eugenio).
LAGO, Bia e LAGO, Pedro. A obra de Frans Post, 2012.
LIMA, Rita. Como vender o exótico: Frans Post e o mercado para o Novo Mundo, 2022.
MELLO, Evaldo. Imagens do Brasil holandês. 1630-1654., 2009.
PATERNOSTRO, Zuzana. Pintura holandesa. Museu Nacional de Belas Artes.
VIEIRA, Daniel. Frans Post, a paisagem e o exótico: o imaginário do Brasil na cultura da Holanda do século XVII, 2012.
BIBLIOTECA e ARQUIVO HISTÓRICO do MNBA.
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