Por Arquivo Municipal de Lisboa
em colaboração com o Gabinete de Estudos Olisiponenses
São Vicente, Diácono e Mártir
Vicente nasceu em Saragoça e faleceu em 304 em consequência das perseguições movidas aos cristãos pelos imperadores romanos. Depois do seu martírio foi construído um sepulcro em Valência onde o corpo começou a ser venerado. Rapidamente o culto se difundiu pelo mundo cristão.
Saragoça, Sagres, Lisboa - O Percurso do Culto
Segundo a crónica de Ahmad ibn Muhammad al-Razi (887-955 d.C.), composta no século X, os cristãos de Valência teriam transportado o corpo do santo para o cabo de São Vicente, em Sagres, local onde continuou a ser venerado. No final do século XII, o Mestre Estevão, chantre da Sé de Lisboa, noticia que um grupo de cristãos moçárabes organizou a trasladação dos restos mortais do santo para a cidade de Lisboa.
Cabo de São Vicente (1906/1928) de Jorge Marçal da SilvaArquivo Municipal de Lisboa
Cabo de São Vicente
Estátua de São Vicente (1968) de Armando Maia SerôdioArquivo Municipal de Lisboa
Culto passa para Lisboa
Os atributos que caracterizam a representação iconográfica de São Vicente encontram-se ligados à transferência das relíquias para Lisboa: a embarcação que o transportou e os corvos que o acompanharam desde o Algarve.
Olissipo quae nunc Lisboa ( ) (1598) de George Braunio e Franz HogenbergArquivo Municipal de Lisboa
São Vicente chega a Lisboa
As relíquias chegaram de barco ao porto de Lisboa na madrugada de 15 de setembro de 1173 e foram colocadas na Igreja de Santa Justa (n.28), junto ao Mosteiro de São Domingos, no Rossio (n.10).
No dia seguinte (16 de setembro), o túmulo é transportado para a Sé de Lisboa (n.79), onde passa a ser venerado num altar próprio. A presença do culto na Sé contribuiu para a afirmação do rei D. Afonso Henriques no contexto político do reino e de Lisboa como centro religioso.
Relicário (1965) de Armando Maia SerôdioArquivo Municipal de Lisboa
A Preservação das Relíquias
Com a destruição do túmulo do santo no Terramoto de 1755, as relíquias foram recolhidas num cofre, decorado a cinzel com motivos da vida e culto de São Vicente, que se encontra no Museu do Tesouro da Sé de Lisboa e é colocado no altar-mor durante as solenidades religiosas.
Oito Séculos de História (1947/1956) de José de Almada NegreirosArquivo Municipal de Lisboa
Representação do Culto
A obra Lisboa: Oito Séculos de História, editada entre 1947 e 1956 assinalou os 800 anos da conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques. Inclui ilustrações de Martins Barata alusivas aos principais momentos da história da cidade e capa de Almada Negreiros.
Numa das imagens dessa obra, Martins Barata reconstitui, a aguarela, a chegada das relíquias de São Vicente à Sé em 1173. Na altura, o edifício estava a ser adaptado a igreja cristã.
Segundo o cronista Fernão Lopes, na sua obra Crónica de D. João I (cap. XLIX), após a Batalha de Aljubarrota que, em 1385, colocou frente a frente os exércitos português e castelhano, a Câmara de Lisboa realizou várias cerimónias religiosas em ação de graças pelo triunfo alcançado.
Uma das principais foi “que pelo dia de São Vicente, principal patrono da Cidade, que pela sua intervenção, entendiam ter sido muito ajudados por Deus, se fizesse procissão na igreja Catedral”.
No Livro 1º de D. João I aprovam-se as normas decididas pelo concelho de Lisboa sobre as práticas religiosas na cidade.
As solenidades do dia de São Vicente são referidas no f. 3v.
Cerimónias Religiosas
Em 1614, a Câmara acordou com o Cabido da Sé a organização das solenidades, ficando a cidade responsável pela festa da trasladação (15 e 16 de setembro, dia em que chegaram as relíquias a Lisboa), enquanto a Sé se encarregava das cerimónias respeitantes ao martírio do santo (22 de janeiro, dia da morte de São Vicente).
Fólio 122 do Livro 3º de Assentos do Senado (1618-08-27) de Senado da Câmara de LisboaArquivo Municipal de Lisboa
Em 1618 (27 de agosto) o Livro 3º de Assentos do Senado confirmava que as festas da trasladação de São Vicente continuavam a ser realizadas por conta da Câmara de Lisboa (f. 122, pormenor).
Cerimónias na Atualidade
Com o tempo, a Câmara Municipal de Lisboa foi diminuindo progressivamente a atenção dada à festividade da trasladação, mantendo-se apenas a celebração do dia de São Vicente pelo Cabido da Sé (22 de janeiro). Esta evocação ocorre num ambiente de grande solenidade, com celebração litúrgica na Sé, e conta com a presença de toda a comunidade diocesana, assim como dos representantes da Câmara Municipal de Lisboa.
Maqueta de Lisboa pré terramoto de 1755 (2023-06-24) de José VicenteArquivo Municipal de Lisboa
O Santo na Cidade
Padroeiro da cidade de Lisboa e da família real, São Vicente tornou-se objeto de veneração. O culto é evidente nos relatos de milagres e na construção de edificações dedicadas ao seu culto, como o Mosteiro de São Vicente de Fora, mandado reerguer pelo rei Filipe II (1582).
Real Mosteiro de Santa Maria de Belém - O edifício, iniciado nos finais do século XV por iniciativa do rei D. Manuel I, foi entregue à Ordem de São Jerónimo. No portal poente, entrada principal da igreja, encontra-se representado São Vicente.
Torre de Belém (1900/1910) de Eduardo Alexandre CunhaArquivo Municipal de Lisboa
Torre de São Vicente de Belém
Edifício militar mandado erguer entre 1514 e 1519, para defesa da cidade de Lisboa.
Estátua de São Vicente (2014-09-26) de José VicenteArquivo Municipal de Lisboa
O santo encontra-se representado no cunhal NE do edifício.
Corvo Azul (2023) de João RodriguesArquivo Municipal de Lisboa
São Vicente Lisboa 850 Anos
No contexto das comemorações dos 850 anos da chegada a Lisboa de São Vicente (1073-2023) a Câmara Municipal de Lisboa realizou uma série de atividades comemorativas que visaram incrementar o conhecimento sobre este santo, figura incontornável na história e simbologia de Lisboa.
Teaser da Mesa-redonda “Um Santo entre Tempos” (16 setembro 2023) Conversa sobre a permanência da figura e do culto de São Vicente na atualidade.
Continue a sua visita em: Lisboa, Cidade de São Vicente - Explorando os Símbolos
COORDENAÇÃO
Helena Neves (Arquivo Municipal de Lisboa) e Hélia Silva (Gabinete Estudos Olisiponenses)
TEXTOS E SELEÇÃO DE IMAGENS
Hélia Silva, Edite Martins Alberto
PRODUÇÃO
Mariana Caldas de Almeida, Marta Gomes
REVISÃO
Maria José Silva, Carla Serapicos
TRADUÇÃO
John Elliot
EDIÇÃO DE IMAGEM E VIDEO
Bruno Ferro, Jorge Baptista, Fátima Rocha
IMAGENS EXTERNAS |AGRADECIMENTOS
Departamento de Marca e Comunicação / C.M.L.
Gabinete de Estudos Olisiponenses / C.M.L.
Museu de Lisboa / EGEAC / C.M.L.
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