Década de 1900
Em 1900, Rafael Bordalo Pinheiro funda o jornal 'A Parodia' num período já de grande cansaço, dando espaço a Manuel Gustavo para aí explorar muitas das inovações no campo das artes gráficas que se vinham experimentando pela Europa. Manuel Gustavo apresentou n’ 'A Parodia' alguns dos seus melhores trabalhos gráficos com a utilização da cor e de frisos com motivos repetitivos, muitas vezes florais e animais que, posteriormente, aplicou na cerâmica com interessantes resultados decorativos. A influência da Arte Nova reconhece-se nos padrões vegetalistas escolhidos como fundo e no desenho das molduras que enquadram as ilustrações.
“A Paródia” (1900-01-17) de Rafael e Manuel Gustavo Bordalo PinheiroMuseu Bordalo Pinheiro
Em 1900, a colaboração n' A Parodia foi uma oportunidade para Manuel Gustavo se afirmar definitivamente no meio da imprensa humorística.
“De volta da Exposição” (1900-11-14) de Rafael Bordalo PinheiroMuseu Bordalo Pinheiro
O ano de 1900 é um período de ouro em que Manuel Gustavo acompanhou o pai a Paris, a propósito da Exposição Universal em 1900, numa viagem largamente comentada nas páginas d' A Parodia.
“Camoeza Vulgar de Linneu” (1900-08-29) de Manuel Gustavo Bordalo PinheiroMuseu Bordalo Pinheiro
Adaptação de desenho do jornal humorístico alemão Yugend, que se publicou em Munique entre 1896 e 1940.
A imprensa humorística germânica é claramente a mais importante referência e fonte de inspiração do artista.
“O Cara de Fome” (1901-07-24) de Manuel Gustavo Bordalo PinheiroMuseu Bordalo Pinheiro
Foi n’A Parodia que o autor apresentou algumas das melhores expressões gráficas, através do recurso aos frisos repetitivos e do uso generalizado da cor.
A influência do estilo Arte Nova, com o qual contactou em Paris, veio influenciar a sua obra a partir de 1900, como se observa nas molduras de linhas ondulantes que enquadram diferentes desenhos do período.
“A Paródia na Paródia Manuel Gustavo” (1901-09-18) de Celso HerminioMuseu Bordalo Pinheiro
Em 1903, Manuel Gustavo participou na 2ª exposição da Sociedade de Belas Artes de Lisboa, ao lado de Francisco Valença.
“A sua peor obra” (1903-06-11) de Manuel Gustavo Bordalo PinheiroMuseu Bordalo Pinheiro
Em Junho de 1903, por ocasião da homenagem a Rafael Bordalo no Teatro D. Maria II, Manuel Gustavo desenhou “A sua peor obra” para integrar o álbum oferecido ao pai nesta celebração, evocando a sua profunda admiração.
De Rafael, olhando o seu filho, sabemos que
'o que mais o divertiu foi ver o Manuel Gustavo rir. (…) A educação severa do avô, e a admiração de Manuel Gustavo pelo génio do pai faziam com que não ousasse ostentar a sua graça diante de Bordallo, que tinha muita pena em não gozar o espirito do filho. Tomaz Bordalo (…) foi dar com êle, justamente nessa noite de Carnaval, escondido atraz de uma coluna do hall do Teatro D. Maria. - «Que estás aí a fazer?» / - «Estou a vêr o Manuel a rir com uns amigos!...».'
[Joaquim Leitão, O Poço que Ri, Anais das Bibliotecas, Museus e Arquivo Histórico Municipais, 1936]
“Mau Tempo” (1902-03-05) de Jorge CidMuseu Bordalo Pinheiro
Manuel Gustavo assegurou a publicação da Parodia Comedia Portugueza juntamente com Jorge Cid, Manuel Monterroso e Celso Herminio, cujos laços de amizade extravasavam o âmbito do trabalho no jornal.
Celso Herminio e Rafael Bordalo Pinheiro
“Mau Tempo” (1902-03-05) de Jorge CidMuseu Bordalo Pinheiro
Manuel Gustavo e o autor do desenho, Jorge Cid.
Medalha de Ouro - Gold Medal Louisiana Purchase Exposition - atribuída a Exposição da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha (1904)Museu Bordalo Pinheiro
Em 1904, Manuel Gustavo auxiliou Rafael Bordalo Pinheiro a promover a participação da Fábrica de Faianças numa exposição em S. Luís, nos Estados Unidos da América, o que lhes valeu uma medalha de Ouro.
“Hotel das Quatro Nações” (1905-03-31) de Manuel Gustavo Bordalo PinheiroMuseu Bordalo Pinheiro
Na Parodia Comedia Portugueza, os assuntos internacionais tiveram grande relevo.
O contexto nacional estava marcado pela questão colonial e pela dívida externa nacional, que colocavam Portugal numa posição de grande vulnerabilidade perante as potências europeias, principalmente face à Grã-Bretanha, situação largamente comentada na imprensa da época.
"Ida e volta" (1903-10-08) de Rafael Bordalo PinheiroMuseu Bordalo Pinheiro
Manuel Gustavo foi grande companheiro do pai, cada dia mais afetado pela doença que o levou à morte a 23 de Janeiro de 1905.
Rafael Bordalo Pinheiro (c. 1904) de Arnaldo da FonsecaMuseu Bordalo Pinheiro
A morte paterna foi para Manuel Gustavo um duro golpe.
“Antes de Começar” (1905-02-23) de Manuel Gustavo Bordalo PinheiroMuseu Bordalo Pinheiro
Em carta sentida aos leitores da Parodia, Manuel Gustavo afirmava:
'a nossa função não é «continuar», o que seria responsabilidade demasiada, mas «começar» o que já é responsabilidade bastante grande.'
Assumiu a direção da Parodia e pôs em prática novas estratégias de venda, com a introdução da cor e de novas técnicas de impressão.
“A Imprensa Portugueza em Paris” (1905-12-22) de Manuel Gustavo Bordalo PinheiroMuseu Bordalo Pinheiro
Ainda em dezembro de 1905, Manuel Gustavo recebeu a medalha da Legião de Honra Francesa por ter integrado a comitiva de Imprensa do Rei D. Carlos em Paris.
Convite para exposição de cerâmica (1906-05-25)Museu Bordalo Pinheiro
Manuel Gustavo herdou a Fábrica de Faianças e inaugurou em Maio de 1906 a sua 1ª exposição de Cerâmica, no Ateliê da Rua António Maria Cardoso:
'A Presente exposição é o resultado dos meus esforços de ceramista que começa (…) o meu pensamento foi não deixar morrer como Rafael Bordalo Pinheiro a faiança artística das Caldas da Rainha.'
Atelier de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (1906-06-11)Fonte original: Hemeroteca Municipal de Lisboa
[Ilustração Portuguesa, 11.06.1906]
Atelier de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, exposição de 1906 (1907-02-25)Fonte original: Hemeroteca Municipal de Lisboa
O eco na imprensa foi encorajador:
'Foi um Sucesso. Pela primeira vez em Lisboa deixou de ser o homem do sport, o atirador de sala de armas, o remador das regatas de Cascais – para ser, exclusivamente, o Artista.'
[Ilustração Portuguesa, 25.02.1907]
“Manuel Gustavo no Porto” (1907-05-04) de Manuel MonterrosoMuseu Bordalo Pinheiro
A Parodia continuou a publicar-se até 1907, com comentários de João Chagas e com muitas ausências de Manuel Gustavo, dedicado às exposições de cerâmica.
Exposição de cerâmica no Salão da Ilustração Portuguesa (1907-03-11)Fonte original: Hemeroteca Municipal de Lisboa
No período compreendido entre 1907 e 1908 surgiu o maior desafio a Manuel Gustavo devido ao auto de penhora da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, então hipotecada, e a sua aquisição por parte de Godinho Leal.
Realizou três exposições de cerâmica:
A primeira, uma homenagem ao pai, no salão de festas da Ilustração Portuguesa, que teve destaque com a visita do Rei D. Carlos.
[Ilustração Portuguesa, 11.03.1907]
Exposição de cerâmica no Salão da Ilustração Portuguesa (1907-03-04)Fonte original: Hemeroteca Municipal de Lisboa
[Ilustração Portuguesa, 04.03.1907]
"A Cerâmica de Manoel Gustavo" (1907-02-01)Fonte original: Hemeroteca Municipal de Lisboa
Noutras duas exposições que realizou no seu Ateliê e na Sociedade de Belas Artes do Porto, Manuel Gustavo apresentou as “terracotas policromas”, elogiadas por José Queirós como “Nova expressão de Arte na cerâmica portuguesa”.
[Ilustração Portuguesa], 01.07.1907]
Jarra “figura de mulher” (1909) de Manuel Gustavo Bordalo PinheiroMuseu Bordalo Pinheiro
A par com a obra gráfica, Manuel Gustavo fundou nas Caldas da Rainha, em 1908, a Fábrica Bordallo Pinheiro, sucessora da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, que havia sido comprada em hasta pública por Manuel Godinho Leal depois da morte de Rafael Bordalo Pinheiro.
Após longa batalha judicial, através da qual conseguiu reaver os moldes originais das peças de seu pai, Manuel Gustavo deu continuidade à obra cerâmica de Rafael, como terá sido a sua última vontade.
Foram anos de enorme dificuldade financeira em que contou com o apoio de muitos dos antigos funcionários da Fábrica de Faianças e com o aplauso da imprensa e de estudiosos de arte, como José de Figueiredo e José Queirós que, desde logo, não hesitaram em vir em sua defesa.
Afirmou-se como um notável ceramista, com vasta obra, eclética e moderna, assimilando a matriz da cerâmica caldense e produzindo peças de linhas mais depuradas, de influência Arte Nova.
Bilha com friso de patos (1907) de Manuel Gustavo Bordalo PinheiroMuseu Bordalo Pinheiro
Apresentadas pela primeira vez em 1907, as “terracotas polícromas” são a grande novidade na exposição lisboeta de 1909, ganhando a atenção dos críticos. Frisos repetitivos e medalhões figurados, de desenho estilizado, plasmam um gosto pessoal de Manuel Gustavo e o seu treino no risco gráfico.
Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (c. 1907) de Photographia ModernaMuseu Bordalo Pinheiro
A 5 de novembro de 1908, Manuel Gustavo inaugurou a nova Fábrica Bordalo Pinheiro.
Acompanhá-lo-ão operários da antiga fábrica, assegurando a qualidade e a produção com que participaram na Exposição realizada no Rio de Janeiro, onde a Fábrica é reconhecida com a medalha de ouro.
Manuel Gustavo e amigos nas Caldas da Rainha (1908-07-01)Museu Bordalo Pinheiro
As Caldas da Rainha eram fonte de trabalho, mas também de divertimento.
No verão de 1908, Manuel Gustavo deixou-se fotografar junto dos seus amigos e de um moderno automóvel.
“3ª Exposição” (1909) de Manuel Gustavo Bordalo PinheiroMuseu Bordalo Pinheiro
Em 1909, no catálogo da sua 3ª exposição, Manuel Gustavo escreveu:
'Fui desalojado do edifício da Fabrica fundada por meu pai. Tive de sustentar uma questão nos tribunais, que felizmente me fizeram justiça, para reaver o mobiliário e todas as fôrmas (…) Consegui através de incalculável dificuldade construir em meses uma pequena Fábrica. (…) Anima-me a ideia de que talvez um dia encontre alguém, capaz de me proporcionar elementos para me alargar até aos grandes centros da Europa e da América, e poder trabalhar enfim, com sossego e desassombro. É essa a esperança que me faz viver.'
“A Exposição de Cerâmica de Manuel Gustavo” (1909-06-28)Fonte original: Hemeroteca Municipal de Lisboa
[Ilustração Portuguesa, 28.06.1909]
Prato de relevo "Papagaio" de "Bordallo Pinheiro/Portugal"Museu Bordalo Pinheiro
Prato de um conjunto de oito, é exemplo da boa aplicação do desenho gráfico à arte cerâmica, tirando partido da plasticidade do material.
COORDENAÇÃO
João Alpuim Botelho e Gisela Miravent
INVESTIGAÇÃO E TEXTOS
Mariana Caldas de Almeida
LEGENDAS
Mariana Caldas de Almeida e Pedro Bebiano Braga
PRODUÇÃO, IMAGEM E DOCUMENTAÇÃO
Cláudia Jorge Freire
IMAGENS EXTERNAS | AGRADECIMENTOS
Arquivo Municipal de Lisboa/Fotográfico
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves
Fábrica Bordallo Pinheiro – Casa Museu San Raphael
Hemeroteca Municipal de Lisboa
Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado
TRADUÇÃO
Kennis Translations
Continue a sua visita em:
Parte 1: Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro # 1: abrindo caminho (1867-1870)
Parte 2: Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro # 2: histórias desenhadas (1880s-1890s)
Parte 4: Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro # 4: humor no quotidiano (1910-1920)
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