Onde o mar arrebenta em mim: Cinco momentos marcantes na vida de Gilberto Gil

Perto de completar 80 anos de vida e logo após ter sido eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras, Gilberto Gil é convidado a relembrar os cinco momentos mais marcantes de sua profícua existência.

Mais da metade foi dedicada à música e a outros campos da sensibilidade e do intelecto.

Da vida pessoal à carreira artística, o baiano recorda também parte da sua trajetória política e social, sempre com a simplicidade que lhe é característica – virtude apenas daqueles que sabem navegar todos os sentidos do tempo e do espaço. 

Como ponto de partida, Gil escolhe a sua primeira lembrança da infância, quando aos dois anos de idade profetizou ao dizer à mãe: ‘quando crescer quero ser musgueiro e pai de menino’. 

O momento, por exemplo, que minha mãe me perguntou o que eu queria ser na vida, né? Eu disse a ela que queria ser musgueiro e pai de menino. É o momento premonitório de tudo que me tornei, é o primeiro momento que eu poderia chamar de meu, existencialmente. (...)

Em seguida, como parte deste sentimento premonitório que veio a se cumprir, o compositor narra o emocionante e quase cinematográfico encontro com sua primeira filha, Nara Gil, nascida em 1966 e fruto do casamento com a professora Belina Moreira (in memoriam). 

Em decorrência da agenda já agitada pelos compromissos profissionais, eles só puderam se conhecer em São Paulo após um mês do parto ter acontecido em Salvador. 

Minha primeira filha, Nara, é inesquecível o momento em que eu a recebi. Ela nasceu em Salvador, eu tava em São Paulo e não pude ir pro parto. Belina teve Narinha em Salvador e ela veio pra São Paulo quase um mês depois. E eu fui recebê-la no aeroporto, o avião chegou...

...e eu pedi à administração do aeroporto que me deixassem ir até a porta do avião. Naquela época não havia os tobogãs, os aviões paravam, desciam as escadas e a gente ia andando até as dependências do aeroporto.

Eu me lembro que fui correndo até a porta do avião onde Belina chegava com ela, com Narinha no colo. E aquele momento foi uma coisa… eu pegando ela no colo ali no meio da pista do aeroporto de Congonhas.

O icônico show, realizado ao lado de Caetano Veloso no Teatro Castro Alves (Salvador, Bahia) naquele ano, marcou a despedida do artista e de seu parceiro conterrâneo, do Brasil. 

Ambos foram exilados no período da ditadura militar e encontraram em Londres o refúgio, onde viveram pelos três anos seguintes. 

O show de despedida, aí já na questão musical e da sociologia da minha vida artística, o momento que eu faço show antes do exílio. E aí tem os encontros extraordinários, assistindo Jimi Hendrix tocando na Ilha de Wight uma semana antes dele morrer.

E para encerrar o desafio que é resumir os inúmeros acontecimentos relevantes de uma potente e frutífera vida, a sua faceta enquanto pessoa pública e líder político – iniciada em Salvador na década de 1980 - não poderia ficar de fora.

Primeiramente como presidente da Fundação Gregório de Mattos, responsável pela administração dos equipamentos culturais soteropolitanos. E, logo após, como o vereador mais votado da cidade, cargo que exerceu de 1989 a 1992. 

No mesmo plano de relevância (do Ministério da Cultura) e de significado, já havia tido a posse como vereador em Salvador, a primeira, né? Ou mesmo a posse na fundação Gregório de Mattos, que foi um pouquinho antes da posse de vereador...

...Foi o primeiro cargo público que eu exerci e era um cargo na função de Estado, porque eu representava o Estado Municipal, o município de Salvador.