Desde tempos imemoráveis, as pessoas acreditam na existência de criaturas mágicas. Os bestiários medievais estão repletos de descrições de feras com atributos peculiares, como unicórnios, dragões e fênix. Há algo reconfortante em ver essas imagens, um lembrete do poder da imaginação humana e do desejo de acreditar em animais com talentos extraordinários (e, por vezes, perigosos).
Visitors looking at Audubon's Birds of AmericaThe British Library
"Nenhuma casa de bruxa está completa se não possuir um exemplar de Animais fantásticos […]".
Professor Dumbledore em Animais Fantásticos e Onde Habitam
The skeleton of a giant, in Athanasius Kircher,Mundus Subterraneus (1665)Fonte original: 32.k.1.
A Terra de gigantes
Um gigante subterrâneo
Athanasius Kircher foi descrito como "um gigante entre os estudiosos do século XVII". É bem adequado que na obra chamada Mundus Subterraneus ("O Mundo Subterrâneo"), ele tenha alegado que um esqueleto enorme foi descoberto em uma caverna siciliana no século XIV.
Supostamente, o gigante tinha 90 metros de altura e é mostrado aqui em comparação com um humano normal, com o gigante bíblico Golias, com um gigante suíço e com um gigante mauritano.
A siren and an onocentaur, in a bestiary (13th century)Fonte original: Sloane MS 278
Sereias
Uma sereia encantadora
Na mitologia grega, a sereia é uma criatura com cabeça de mulher e corpo de pássaro, pero na França, assim como no Brasil, utiliza-se apenas uma palavra ("sirène") tanto para "siren" quanto para "mermaid", sendo que esta última é um ser com uma cauda semelhante à de um peixe, conforme mostrado neste manuscrito feito na França medieval. Ela enfeitiça os marinheiros com o canto de pássaro e corpo voluptuoso antes de arrastá-los dos navios para comer a carne deles.
Na costa há um onocentaur, com o corpo de um homem até o umbigo e o corpo de um burro abaixo.
Game-book, comprising a sheet of vellum folded, concertina-fashion, to form a game in which an overlying picture in two halves may be lifted to reveal another picture underneath (17th century)Fonte original: Add MS 57312
Uma sereia de um livro-jogo
Este pequeno e encantador "livro-jogo" possivelmente foi feito como um símbolo de amor. Utilizando-se uma série de abas, criaturas diferentes podiam ser criadas usando partes do corpo de feras míticas e animais reais.
Aqui temos uma sereia, que pode ganhar pernas para se tornar uma mulher ou a cabeça de um homem para se tornar um homem-peixe.
"O dragon (dragão), provavelmente o animal mágico mais famoso do mundo, encontra-se entre os mais difíceis de esconder"
Animais Fantásticos e Onde Habitam
Ulisse Aldrovandi, Serpentum et Draconum Historiae Ulisse Aldrovandi, Serpentum et Draconum Historiae (1640)Fonte original: 38.g.10. or 459.b.5.(2.)
Dragões etíopes
Ulisse Aldrovandi era obcecado por dragões, tanto que escreveu um livro best-seller chamado The History of Serpents and Dragons. Aldrovandi era proprietário de um espécime de "dragão monstruoso" que foi encontrado perto de Bolonha, Itália, em 1572. O corpo preservado da criatura foi exibido no museu pessoal dele e ainda podia ser visto mais de 100 anos depois.
Ulisse Aldrovandi, Serpentum et Draconum HistoriaeFonte original: 38.g.10. or 459.b.5.(2.)
Estas páginas mostram dois tipos de dragões etíopes que podem ser diferenciados pelas cristas nas costas.
Spiders, in Maria Sibylla Merian, Metamorphosis Insectorum Surinamensium (1705)Fonte original: 74/649.c.26
Aranhas
Aranha-golias-comedora-de-pássaros
Maria Sibylla Merian foi uma naturalista revolucionária, a primeira mulher a liderar uma expedição científica para o Suriname, entre 1699 e 1701.
Foi nessa viagem que ela descobriu esta aranha gigante comedora de pássaros. Infelizmente, ela foi declarada como excêntrica por alguns colegas do sexo masculino, e foi somente após 1863 que a existência dessa aranha foi finalmente aceita.
Study of Aragog by Jim Kay, for The Chamber of SecretsThe British Library
Aragogue
Esta pintura preparatória de Jim Kay captura cada detalhe assustador de Aragogue, a aranha carnívora que Harry Potter e Ron Weasley encontraram na Floresta Proibida.
Ao fundo, centenas de pernas de aranhas tornam-se indistinguíveis das árvores pontiagudas em volta delas.
Os fios da teia das aranhas brilham em branco à luz da varinha de Harry.
Hipogrifos
A hippogriff, in Orlando Furiosodi M. Lodovico Ariosto (1772)Fonte original: C.7.d.7.
Um cavaleiro e seu hipogrifo
Ludovico Ariosto foi o primeiro a descrever o hipogrifo, no poema épico Orlando Furioso (1516).
Nesta ilustração, o cavaleiro, Ruggiero prendeu o hipogrifo em uma árvore. O que ele não sabia é que a árvore era, na verdade, outro cavaleiro que havia sido transformado por uma feiticeira malvada.
Drawing of Buckbeak the hippogriff by Jim Kay, for The Prisoner of AzkabanThe British Library
Bicuço
Esta bela pintura de Jim Kay mostra Bicuço, o hipogrifo, deitado na cama de Hagrid, com um lanche composto de furões sob suas garras. Kay desenhou o interior da cabana de Hagrid a partir da cabana real do jardineiro de Calke Abbey, em Derbyshire, Reino Unido.
Os destaques vibrantes em azul lembram as plantas Hyacinthoides non-scripta, que crescem nas florestas de Calke.
"Um pássaro vermelho do tamanho de um cisne apareceu […] Tinha uma cauda dourada e faiscante, comprida como a de um pavão e garras douradas…"
Fawkes a Fênix em Harry Potter e a Câmara Secreta
A phoenix rising from the ashes, in a bestiaryFonte original: Harley MS 4751
Erguendo-se das chamas
Este bestiário do século XIII descreve a "Fênix" de forma bem detalhada. De acordo com o manuscrito, esse pássaro mítico é chamado assim por sua cor púrpura tíria ("phoenician purple", em inglês). A fênix é nativa da Arábia e pode viver 500 anos.
A phoenix rising from the ashes, in a bestiary A phoenix rising from the ashes, in a bestiary (13th century)Fonte original: Harley MS 4751
Na velhice, acredita-se que a fênix crie sua própria pira funerária com galhos e folhas antes de abanar as chamas com as próprias asas para ser consumida pelo fogo. Após o nono dia, ela surge novamente das cinzas.
A phoenix, in Guy de la Garde, L’Histoire et description du Phoenix (1550)Fonte original: G.10992.
Uma fênix francesa
Você sabia que o autor francês Guy de la Garde devotou um estudo completo à fênix, chamado L’Histoire et description du Phoenix? A cópia da Biblioteca Britânica desse livro é impressa exclusivamente em papel velino e contém uma imagem colorida à mão de uma fênix emergindo de uma árvore em chamas.
A simurgh, in Majma’ al-ghara’ib (1698)Fonte original: Add MS 15241
O Simurgh
O simurgh era retratado tradicionalmente com uma cabeça canina, orelhas pontiagudas e um rabo de pavão. Na literatura persa, ele geralmente é representado em voo, com fantásticas penas espiraladas na cauda. Neste bestiário, o autor descreve o simurgh como forte o suficiente para carregar com facilidade um elefante, e é dito que ele bota um ovo a cada 300 anos.
Study for the phoenix by Jim Kay, for The Chamber of SecretsThe British Library
Fênix de Jim Kay
O estudo preparatório de Jim Kay capta as cores brilhantes das penas da fênix; a imagem parece pairar sobre a superfície da página.
A pintura também inclui detalhes do ovo, o olho e uma única pena de fênix, todos os quais ajudaram o artista a criar a ilustração final.
"O unicórnio era tão branco que fazia a neve ao redor parecer cinzenta."
Harry Potter e o Cálice de Fogo
A unicorn, in Manuel Philes, On the properties of animals (16th century)Fonte original: Burney MS 97
Um unicórnio com aparência de leão
Na mitologia, o unicórnio aparece em todas as formas e tamanhos.
Um poema do escritor bizantino Manuel Philes descreveu o unicórnio como uma fera selvagem com uma mordida perigosa: ele tinha a cauda de um javali e a boca de um leão.
Unicorns, in Pierre Pomet, Histoire générale des Drogues, traitant des plantes, des animaux et des mineraux (1694)Fonte original: 37.h.7.
Cinco espécies de unicórnio
Pierre Pomet, um farmacêutico parisiense, identificou nada menos que cinco espécies de unicórnio, incluindo o camphur (um asno com chifre da Arábia) e o pirassoipi (um unicórnio com dois chifres idênticos, uma contradição com relação ao termo). Pomet afirmou que o chifre do unicórnio era "bem utilizado devido às ótimas propriedades atribuídas a ele, principalmente contra venenos".
An Italian unicorn, in Discours d’Ambroise Paré, Conseiller et Premier Chirurgien du Roy. Asçavoir, de la mumie, de la licorne, des venins, et de la peste. (1582)Fonte original: 461.b.11.(1.)
Caça aos unicórnios
Há muito tempo, diz-se que o sangue, o pelo e o chifre do unicórnio teriam propriedades medicinais. Esta imagem da matança e esfolamento do pirassoipi, um unicórnio com dois chifres idênticos, pode ser encontrada em um estudo de Ambroise Paré, cirurgião da Coroa francesa. Paré tinha uma ampla variedade de interesses. Ele dedicou outros capítulos desse livro a fenômenos como venenos e múmias egípcias.
"...corujas piavam, gatos miavam e o sapo de estimação de Neville coaxou alto debaixo do chapéu do seu dono."
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban
A cat, in Conrad Gessner, Historiae animalium (1551–87)Fonte original: 460.c.1.
A Um gato astut
Há muito tempo os gatos são associados com a feitiçaria. Conrad Gessner, um naturalista suíço do século XVI, relatou que eles possuem uma "característica astuta" e que "sabe-se de casos em que homens chegaram a desmaiar ao ver um gato". Edward Topsell, o primeiro tradutor da obra de Gessner para o inglês, observou que "Os familiares das bruxas costumam aparecer na forma de gatos, o que é um argumento de que o animal é perigoso para a alma e para o corpo".
The snowy owl, in John James Audubon, The Birds of America (1827–38)Fonte original: N.L. Tab.2
Uma coruja notável
Esta ilustração colorida à mão de um par de corujas-das-neves pode ser encontrada no enorme Birds of America, que mostra todos os pássaros nativos da América do Norte em tamanho real. O volume finalizado tem pouco mais de 1 m de altura e é o livro impresso mais caro já vendido em um leilão. As corujas-das-neves são nativas das regiões árticas da América do Norte e da Eurásia.
A fêmea, mais à frente nesta figura, tem mais manchas de plumagem preta.
A toad, in J. B. de Spix, Animalia nova, sive species novæ testitudinum et ranarum, quas in itinere per Brasiliam annis 1817-1820 ... collegit, et descripsit (1824)Fonte original: 505.ff.16.
Um sapo tóxico
Os sapos aparecem no folclore mágico há séculos. Os usos deles variam desde prever o clima até trazer boa sorte, e eles aparecem com frequência nos remédios populares: por exemplo, dizia-se que esfregar um sapo em uma verruga a curaria, mas só se você empalasse o sapo e o deixasse assim até a morte.
O sapo-cururu, mostrado aqui, é muito grande e pode ser identificado por suas patas sem membranas. Suas glândulas venenosas produzem uma secreção leitosa tóxica.
Tem interesse em Visual arts?
Receba atualizações com a sua Culture Weekly personalizada
Está tudo pronto!
O seu primeiro canal Culture Weekly chega esta semana.