Muito embora Trindade se tenha voltado para a pintura de interiores a óleo nos últimos anos de sua vida, fazem parte desta colecção alguns esboços de nus da primeira década do século XX. Estas representações eram muito procuradas por abastados e cosmopolitas indianos, que procuravam trabalhos que se assemelhassem aos dos artistas franceses em voga como Ingres ou Bouguereau.
Retratos de nus femininos segurando um espelho são um tema pictórico em uso desde o século XVI. Na sua maioria exploram a dicotomia voyeur – vaidade e implicam quase sempre a presença de um observador, mesmo que a modelo não o confronte directamente. Neste retrato em particular, uma jovem sentada de lado olha o espelho que segura entre as mãos. Embora o espelho simbolize muitas vezes a vaidade feminina, neste caso parece ser um pretexto para escapar a um contacto visual directo.
O domínio de Trindade sobre a linha e o claro-escuro são notáveis e essenciais para criar desenhos vívidos sem ter que recorrer à cor para que os mesmos se encham de ritmo ou textura.
Referências: Gracias, Fátima, Faces of Colonial India: The Work of Goan Artist António Xavier Trindade (1870-1935), Panjim, Goa, Fundação Oriente, 2014.