CO-2722
Leskoschek, Axel. [Carta] 1950 out. 20,
Viena [para]
Candido Portinari; Maria Portinari; João Candido Portinari,
Paris. 2 p. [manuscrito]
Queridos amigos Portinari, Maria e João Candido!
Esta é a segunda carta que vs. mando. Porque a primeira não chegou, não posso adivinhar se não seja por seu conteúdo político. O seu endereço recebemos do camarada Lafitte. Respeito muito a sua resolução de voltar ao Brasil e espero que tenha notícias favoráveis de Queiroz Lima em respeito, mas estamos um pouco inquietos em relação à sua recepção.
De nós dois há pouco de raconter. Botamos todo o nosso dinheiro em uma pequena moradia com atelier onde sentimos ótimo. O meu trabalho puramente artístico é escasso; tenho que fazer muitas coisas pequenas para o dia e finalmente pouco importantes. Em geral faço ilustrações para livros, se tiver, que uma editora manda fazê-los; é dificílimo porque a gente das editoras sabem que sou comunista e por isso não me dão trabalho. Agora vou ir por poucas semanas a Berlim vendo se não haverem trabalho para mim que possa efetuar aqui. Não intendo ir por muito tempo fora do país, sendo a situação como está. Somos todos nós trabalhando dias enoites para equilibrar a falta de cobres. Um dia espero poder trabalhar como v. gentilmente manda de mim. Em geral ainda o tempo não é favorável a tal assunto. Agora pela primeira vez estou trabalhando como quero: ilustrações para dois livros para crianças, sobre a Hungria nova (para uma editora em Berlim). O texto é de um amigo meu e bom camarada (Leo Katz) e é muito bem feito. Mas não faço xilogravuras, mas desenhos à pena bem delicados (um contrapeso à severidade da xilogravura, que ninguém na Europa pode pagar, sendo já a madeira caríssima) Fora disso tenho que
escrever críticas de todas as exposições que tem aqui e que não são grande coisa. Encontrei, há pouco, amigos que vieram à Bienale e que – com muita razão – eram entusiastas de suas obras, ô meu grande e querido amigo e pintor! Tive muita alegria! Impossível para mim de ir à Itália ou França. Tenho toda dificuldade de ganhar a vida pura e simples. Mas não faz mal. Um dia...
Mando abraços a todos amigos em Brasil que eu também não esqueci nem podia esquecer nunca.
Sejam abraçados os três com toda ternura do seu velho
Axel