CO-1111
Carpeaux, Helena; Carpeaux, Otto Maria. [Carta] 1944 mar. 28, Rio de Janeiro, RJ [para] Maria Portinari,
Petrópolis, RJ. [datilografado -
manuscrito]
Minha cara Maria,
Fiquei triste, quando outro dia liguei para a sua casa, não atendendo ninguém. Logo senti aquele abandono contra o qual a sua casa é o melhor remédio. Mas, felizmente, Petrópolis fica ao meu alcance, e como o meu médico também insiste para que eu ia passar uns dias fora, para mudar do ar e do ambiente, queria pedir a você um grande favor. Pretendo passar uma semana ali, levando o cachorrinho comigo; e como não posso ir com ela à procura dum quarto ou duma pensão (é preferível um quarto, pois eu não janto, tomo apenas um “lunch”), queria pedir muito a você de me arranjar uma morada, sobretudo perto de vocês – não conheço Petrópolis, e portanto não conheço as distâncias; não tenho pretensões nem exigências a fazer. Com tudo que você me arranjar, ficaria muito contente. Já tive uma aula em russo, e na próxima já pretendo conversar; o meu professor (com quem, aliás, já falei sobre você) disse, se eu continuar no mesmo ritmo, vir[ar]ei, um dia, o professor dele. Mas, “niente paura”, isso é um pouco exagerado; contudo, daqui em poucas semanas, pretendo começar a leitura dos grandes russos.
Um grande abraço para você e carinhosas lembranças a todos; para João Candido um beijinho excepcional
De Helena
Infelizmente, sou prisioneiro do trabalho aqui, num calor infernal renovado, e não posso continuar, com mestre Portinari,as nossas últimas conversas sobre Goya, Michelangelo, Santa Teresa e mil outras coisas. Mando, porém, a minha embaixatriz, e tenho, além disso, a esperança de rever vocês todos, em breve, no Cosme Velho, que, contudo, é melhor do que todos os Petrópolis do mundo. Abraço velho
Carpeaux
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