CO-1795
Fonseca, José Paulo Moreira da. [Carta] 1957 fev. 25, Rio de Janeiro, RJ [para] Candido Portinari, [Rio de Janeiro, RJ]. [datilografado]
Meu caro Portinari,
Incluso segue recorte do artigo que escrevi sobre o livro do Callado no qual V. é “retratado”. Maria me dissera que a “Tribuna” de sábado, chegada à sua casa, não continha a parte referente aos livros.
Já sou quase suspeito para falar em sua obra, tanto a admiro. Mas, pensando bem, creio que essa admiração resulta em lucidez. Realmente, só mesmo quando sentimos uma obra de arte até o fundo, podemos dizer coisas certas sobre ela.
Dia a dia você se torna mais necessário ao Brasil, à nossa pintura, que ameaça descambar para a mais do que “abstrata” arte concreta. Confesso que ando alérgico a toda a manifestação estética sem “conteúdo”, sem valores humanos, sem “significação”, arte estritamente in-significante pois. Mas tudo isso passa. Veja a literatura francesa – quem hoje fala em dadaísmo, letrismo, epifanismo e outrsa bobagens? Mas Claudel, Eloard, Girandoux, e outros ficaram porque souberam ferir ao que há de fundo no homem, aquilo que é de todos os tempos, que é eterno enfim.
Isso tudo, porém, é assunto para conversa. Breve espero poder encontrá-lo para um papo, ocasião na qual mostrarei as “provas” de seus desenhos para meu livro, que devem ficar prontas esta semana.
Um afetuoso abraço para V. e Maria.
José Paulo
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