CO-1566
Dionísio, Mário. [Carta] 1946 out. 10,
Lisboa [para] Candido Portinari, Paris. [datilografado]
Meu caro Portinari:
Acredita que, desde que cheguei, não tive ainda dois minutos livres e que sempre procurei tê-los para vos enviar estas duas linhas? Vim encontrar tudo muito animado, com essa espécie de animação que me pareceu pouco própria da patine gris de Paris, mas suponho, ao contrário, tão comum nos nossos países. Por isso só agora me é possível reafirmar o recrudescimento de amizade e o verdadeiro reconhecimento que todas as vossas gentilezas provocaram em mim. Pelo vosso auxílio, pela vossa companhia, pela vossa sincera camaradagem, mais uma vez, muito e muito obrigado.
Lamento muito ter tido de partir no dia seguinte ao do vernissage da exposiçãosem poder colher pessoalmente o êxito desta, que insisto em sentir como um assunto pessoal. Pelo que o Joaquim me contou, arrependi-me, depois, de não ter aceitado o seu último convite para jantar. Coibi-me desse prazer para não ser intruso e afinal os
parisienses seriam iguais até ao fim...
A viagem foi longa e estafante, fornecedora também de vários ensinamentos... – mas deu o prazer de encontrar os meus de perfeita saúde, principalmente a minha garota, que desconheci pelo desenvolvimento inesperado. A minha mulher recomenda-se vivamente e lamentou muito saber que não passam por aqui no regresso, para vos abraçar.
Espero não ser excessivamente maçador pedindo mais uma vez a Maria que me envie o que sair de interessante (de ambos os lados) sobre a exposição. E fico à espera das reproduções que tinha pedido, principalmente dos frescos da Pampulha, se sobejarem. Obrigado pelas que o Joaquim me transmitiu. Espero publicar uma pequena crônica a propósito da inauguração num dos jornais diários de Lisboa.
Está certa a vossa partida no dia 30? Espero as vossas notícias , quando isso vos for possível, como espero fazer-me lembrar sempre que puder. Saudades de todos os amigos e minhas para Maria, João Candido e Inês. E um grande abraço para si do seu muito amigo e admirador de sempre:
Mário Dionísio
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