Trindade pintou um conjunto notável de aguarelas e óleos sobre o Nasik executados entre 1930 e 1932 que nos dá conta dos surpreendentes rituais cotidianos na Índia.
Executadas ao ar livre, técnica bem manejada por diferentes gerações de naturalistas, as diversas cenas no Nasik com suas ricas pinceladas, atmosfera e luz vibrante também são interessantes pelo seu significado documental.
Um verdadeiro lugar de confluência, o rio Godavari na região de Panchavati, no norte do Nasik é um importante local de peregrinação para as diversas religiões da Índia. os seguidores do Hinduísmo acreditam que Rama e Sita, juntamente com Lakshman, passaram longos dias de exílio nas margens deste rio. Para além dos mais de 200 templos que aqui se encontram, localizam-se nesta área desde 500 a.C as cavernas Pandav, local sagrado para os Budistas. Este foi também o local onde viveu o 8º Tirthankara da religião Jaina. Panchavati fez parte do Império Mughal no século XVI e a partir do século XVIII foi governada pelos Marathas.
imortalizado várias vezes por Trindade, o templo Sri Sundar Narayan e as suas imediações são exibidas nestas duas cenas a óleo como o centro de toda a actividade humana nas margens do rio Godavari. A congestão dos templos, fiéis e dos seus preparativos religiosos proporcionam ao pintor vivas composições, nas quais interpreta subtilmente a relação entre o humano e o divino, ma também a ligação deste com a arquitectura e a paisagem natural.
Referências: Shihandi, Marcella, et al, António Xavier Trindade: An Indian Painter from Portuguese Goa (catálogo de exposição), Georgia Museum of Art, University of Georgia, 1996; Tavares, Cristina Azevedo et al, António Xavier Trindade: Um Pintor de Goa (catálogo de exposição), Lisboa, Fundação Oriente, 2005; Gracias, Fátima, Faces of Colonial India: The Work of Goan Artist António Xavier Trindade (1870-1935), Panjim, Goa, Fundação Oriente, 2014.