A representação de Madonas em estilo indiano era tema favorito de Ângela Trindade, que desta maneira conferiu uma nova vitalidade e significado a este antigo conceito ocidental de arte religiosa. Os seus interessantes retratos de Nossa Senhora, tingidos de cores locais, trouxeram-lhe reconhecimento internacional e, em 1955, a condecoração papal Pro-Ecclesia et Pontifice, pela sua contribuição para o mundo da arte e da cultura através de composições de arte cristã em estilo indiano.
Nas suas mais de doze Madonas, a artista substituiu frequentemente a pose escultural da Virgem na iconografia ocidental por Mudras indianos. Estes gestos ou poses fazem parte de rituais tântricos amplamente reconhecidos na Índia, sendo, portanto, um eficaz meio de comunicação de conceitos que dificilmente podem ser revelados por palavras expressões. Nesta imagem em particular, a mão direita de Maria está em posição de ensinamento e a esquerda em posição de libertação.
Em muitos das suas composições, Ângela incluiu o lótus em vez do lírio, utilizado na iconografia ocidental, como símbolo de pureza de mente e coração. Neste retrato, Trindade representa Maria, soberana no topo do mundo sobre uma lua crescente - símbolo da sua glória e vitória sobre o tempo e o espaço - e uma serpente debaixo dos seus pés, representando a libertação do fardo do pecado original. Os seus misteriosos olhos amendoados, adornos e jóias, juntamente com um sari em tons de azul e dourado, são absolutamente majestosos e, sem dúvida, indianos.
Referências: Gracias, Fátima, Ângela Trindade: A Trinity of Light, Colour and Emotion, Panjim, Goa, Fundação Oriente, 2016.