Para além de retratos de pessoas próximas, Trindade produziu um número significativo de retratos de gente simples que o artista representa com um extraordinário sentido de dignidade e realismo. A maior e mais marcante dessas pinturas foi executada em 1932, depois de Trindade ter avistado duas irmãs Arménias em Bombaim. As duas raparigas eram provavelmente refugiadas muçulmanas. Tanto o estilo como a estampa da indumentária exibida pela rapariga mais nova lembram os trajes usados pelas mulheres dos países fronteiriços ao Subcontinente. Durante a década de 1920, quando a Arménia foi tomada à força pela então República Soviética, muitos muçulmanos Arménios deixaram sua terra natal e estabeleceram-se no Irão e no Afeganistão, mas também em Bombaim.
Retratadas sentadas nas escadas de um edifício de um bairro da classe trabalhadora, as dificuldades passadas por estas duas irmãs são reveladas pelos seus pés descalços. Se por um lado o uso de cores sombrias induz um clima de adversidade, por outro a doçura das suas expressões faciais exorta a esperança de uma vida melhor. A proximidade das duas raparigas é terna e reconfortante e apresentada como a chave para a sobrevivência numa sociedade desconhecida.
Referências: Shihandi, Marcella, et al, António Xavier Trindade: An Indian Painter from Portuguese Goa (catálogo de exposição), Georgia Museum of Art, University of Georgia, 1996; Tavares, Cristina Azevedo et al, António Xavier Trindade: Um Pintor de Goa (catálogo de exposição), Lisboa, Fundação Oriente, 2005; Gracias, Fátima, Faces of Colonial India: The Work of Goan Artist António Xavier Trindade (1870-1935), Panjim, Goa, Fundação Oriente, 2014.