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Século XVII - Azulejaria de Padrão

Museu Nacional do Azulejo

Museu Nacional do Azulejo
Lisbon, Portugal

O século XVII é decisivo na afirmação do azulejo como arte identitária de Portugal. Foi então que se delinearam as suas diferentes vias de utilização: o padrão, o figurativo e o ornamento. Nesse sentido, conhecer a azulejaria desta época é essencial para perceber como o azulejo foi concebido e utilizado no nosso país, distinguindo-se do seu uso noutros locais e culturas, e refletindo um gosto próprio. Uma das características que então se afirmou, embora tivesse já raízes no século anterior, foi o seu modo de aplicação como elemento estruturante de arquiteturas, através de revestimentos, muitas vezes monumentais, tendo os azulejos de padrão desempenhado um papel fundamental. A Igreja foi a principal responsável pela encomenda de azulejos de repetição, opção de grande eficácia para o revestimento, por vezes total, das paredes dos seus templos. Estamos aqui perante um dos aspetos mais fascinantes do processo criativo dos pintores cerâmicos Portugueses: a capacidade de inventar e interpretar temas e motivos decorativos de origem diversa, numa fusão de influências que permitiu a criação de uma linguagem única. A multiplicidade de soluções e propostas da azulejaria portuguesa de padrão desta época não tem paralelo noutras produções europeias. Na transição entre os séculos XVI e XVII, produziram-se complexos motivos de enxaquetados, composições de xadrez que são reminiscências de pavimentos cerâmicos medievais, compostas por elementos de formas variadas aplicados em fortes linhas diagonais e onde as superfícies brancas determinam os ritmos visuais. Podiam ter contrastes simples de azul ou verde e branco, ou ver introduzidos elementos decorativos que as enriqueciam, no que ficou conhecido como "enxaquetados ricos". Por vezes, manufaturaram-se falsos enxaquetados, composições eventualmente destinadas a espaços onde a aplicação não pudesse ter o concurso de azulejadores mais experientes, ou porque se pretenderia uma ilusão de complexidade, superando eventuais restrições financeiras da encomenda. Já os padrões estruturavam-se a partir da repetição de módulos de 2x2, 4x4, 6x6 e 12x12 azulejos – existindo, ainda, alguns, muito raros, formados por um número ímpar –, formando tapetes emoldurados por cercaduras ou por barras, a que, muitas vezes, se juntavam frisos, elementos fundamentais para a sua integração no espaço arquitetónico, em revestimentos que podiam ser totais, desde o pavimento à sanca dos tetos, cobrindo mesmo colunas, abóbadas e cúpulas. Em geral, os padrões constituídos por módulos de menor dimensão eram aplicados na parte inferior das paredes, reservando-se os maiores para as superfícies mais afastadas do olhar do espectador, criando a ilusão de proximidade. Nesta época, os azulejos eram policromos, nas cores azul, verde e amarelo, mas também se produziram padrões de pintura azul sobre fundo branco. Alguns dos padrões foram produzidos na vigência da União Ibérica, entre 1580 e 1640, o que não será alheio à manufatura, em Lisboa, de motivos de origem espanhola. É o caso dos motivos denominados "ponta de diamante", de origem sevilhana ou talaverana, conhecidos em Espanha por "clavos", cuja aplicação conheceu inúmeras variantes pela introdução de elementos centrais e laterais que permitiam novas propostas estéticas. Memória da coexistência política e económica peninsular são também os chamados padrões de "parras", importação estética de uma criação de Sevilha ou Talavera destinada ao Palácio do Escorial. Num primeiro período de produção destacam-se, ainda, padrões de influência ítalo-flamenga, alguns dos quais módulos raros diretamente inspirados em motivos de pavimentos. Ao longo do século surgiu uma enorme variedade de padrões e suas variantes, agrupáveis em famílias como fez no seu estudo pioneiro João Miguel dos Santos Simões. Algumas, como as "massarocas" ou as "camélias", são manifestações de um gosto pelo exótico, vertente identitária da azulejaria portuguesa, inspirando-se em têxteis turcos ou em porcelanas da China. Já famílias como as "laçarias" têm referentes na azulejaria hispano-mourisca da primeira metade do século XVI. Assinale-se ainda a existência de padrões impossíveis de agrupar em famílias, por serem raros ou mesmo únicos, alguns com ritmos de forte dinamismo, outros mesmo vertiginosos, inspirando-se em tecidos, couros, ou trabalhos em metal. No seu conjunto certificam, de forma muito eloquente, a criatividade das olarias portuguesas do século XVII.

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  • Título: Século XVII - Azulejaria de Padrão
  • Localização física: MNAz, Museu Nacional do Azulejo, Lisboa, Portugal
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