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Letter

Raul Bopp

Projeto Portinari

Projeto Portinari
Rio de Janeiro, Brazil

Mostra-se surpreso com o casamento de Portinari. Faz comentários sobre diversos artistas. Compara a vida em Londres, Paris e Berlim.

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  • Title: Letter
  • Creator: Raul Bopp
  • Date Created: 1930
  • Location: Londres ING, Paris FRA
  • Provenance: Portinari Project Collection
  • Subject Keywords: Vida Artística, Viagem de estudo, Vida Artística, Viagens, França
  • Transcript:
    CO-861 Bopp, Raul. [Carta, 1930], Londres [para] Candido Portinari, Paris. 2 p. [manuscrito] Palanim Me reuni com a minha máquina – por sinal a fita está uma merda. Assim mesmo corro umas linhas em resposta a sua carta de que, aliás, só tive notícias pelo telefone. Pedi ao Falcão que lesse uns trechos e, mais ou menos, fico sabendo que você não vem pra cá. Que merda. Que história é essa de sua inglesinha? Usa fitinha de veludo no pescoço? Tipinho do Reinolds? Porra, que eu vi cada trocinho suco em Londres. Como é que você fisgou essa? Pelo bai-bai? Ou lá no Romano? Se Palanim Remexendo as malas vi uns pedaços de carta pra você. Uma vai agora p/c. Quando eu for ao Rio, vamos ter uma prosa grande. Que história é essa de você estar “casado”; disque, será com aquela pessoa? Não acredito. Precisamos dar outro giro por aquelas bandas. Bagunçar um pouco. Soube, pelo Jobim, que o Sotero evoluiu brutalmente. O caroço era o Afonsão. Perguntando se ele estava na parada, etc. O Sotero evoluiu pro gênero [ilegível], me disseram, a tal ponto que o Diário de Notícias – e [ilegível] – não pode publicar. Talvez haja exagero na informação. Seja como [ilegível]. Uns canalhões burgueses, [ilegível] penteiúdas, pelo menos é mais interessante que os Birdsley (a ortografia é que é o diabo), as cinturinhas frágeis e crespinhos na testa. Que diabo foi, pra você não ter ido a Berlim, ver os troços modernos que tem lá: há no [ilegível] Museum, uns Emil Nolde fabulosos. Vide a [ilegível]: um maravilhoso Menino Jesus roxinho como um feto. A maior dele em, [ilegível] a fora, a [ilegível] cretina dos magos.Uma pintura inteira fabulosa. Emocionalista. Posição psicológica a pintar, descobrindo a criatura por dentro. O Ernesto Barlach é outro. Creio que V. conhece o Otto Dix e o Max Pechstein (não vi naquelas galerias o Paul Klee, o Kandinsky, [ilegível] mais umbigados à corrente expressionista, negando o mundo exterior, que está muito racionalizado) A razão impede a expressão pura – fazer algo sem controle. Uma tendência negativista danada contra as regras de bem agradar o respeitável público. O Klee, que dizia haver cursado todos os mictórios do país, aprendendo desenho com os moleques. O grupo do “Neue Sachlichkeit”, em vez de “negar”, criticar; trazer o objeto em sua mesa. Kandinsky, eu acho meio besta – o desejo de não exprimir, não abolir o espectador. Há uma intervenção do raciocínio deformador. Em Berlim, uma galeria de arte russa – pintura abstrata, pincel sem força. Pincel frio e gelado pra burro. Se o camarada Malevich fez o quadro “Branco no Branco”, atingiu o seio da pintura. Renúncia da [ilegível] exposição [ilegível]lismo que aquela “audição do silêncio” [ilegível] aos espectadores. Vamos ouvir agora , viver [ilegível.]. Tudo se concentrava e começava a “ouvir”. 22 minutos depois, outro troço: “Enc Gatie” ou a cavalhada de “Bach”, barulhenta [ilegível] teclas: novos intervalos de silêncio. Eu ainda vou ser um desses gênios fabulosos.(desse gênero, com renúncia dos meios de expressão do Malevich me agrada muito). Mande dizer como vai essa [ilegível] por aí. O Lúcio, o Zé Maria, ando longe de tudo isso. Estive no Rio[ilegível], agora já voltei. Passei um mês e tanto como um cavalo. Só agora é que soube que a la não há mais pas na rancheiria e que a libra [ilegível] pro andar térreo. Isso que é bom. É só o que eu torço, que o câmbio dos outros leve a breca. Único jeito de se poder [ilegível] tempo em Londres. Os 11 dias que estive lá dormi numa banheira [ilegível] de luxo! 660 por dia. Depois me tocava pro British National Gallery, pra Strand, pro pridetinho nas travessas da Crossing Road, pro Zôo, ver feras, pro Hyde Park, os [ilegível] ou as putarias debaixo das novas Igles e Beta. Dentro de casa, um puritanismo safado. Fora de casa, nos fakes, uma sacanagem. Tomara que a libra venha abaixo. Vamos fazer farra na Inglaterra! Paris ta impossível. Francês é besta, não é seu Palanim? Você viu aquela França “liberal” com metralhadoras nas ruas contra as [ilegível] de operários? Os fuzilados [ilegível] China, por comemorar o 14 de julho, le Juillet – e mais bestas somos nós que ainda acreditamos na Marselhesa (artigo de exportação). Amor se paga, gentileza se paga, fama se paga, você teve provas disso, você seria um fabuloso ogun na pintura, pagando 500 francos pelas publicações. Artigo compra feito, com 2 puxõezinhos assenta no freguês. Viva Berlim, seu Palanim. Trepa-se bastante com quem a gente quer. A única coisa que se paga é “camisa de Vênus”, que até nos bondes, anúncios luminosos, de ponta a ponta, se faz reclames do artigo. Quer viver nu? Se vive. Quer ser puto? Pode ser! Quer ser fanchão? À vontade. E tudo isso com um bom humor que só existe na margem direita do Reno. E as suecas? Toda a gente dos lados do Báltico [ilegível] é fabulosa. A Europa para mim ta no Norte. Mais humana, mais sincera, mais [ilegível] Meu endereço: Martinelli 12º Agência Brasileira. St. Pauls ta pau, pau, pau! Só se fala de comunismo, anti-comunismo, prisões, ambiente de polícia, [ilegível], café, crise, falência. [ilegível] Qualquer dia vou pro mato, matar passarinho que é melhor! 2
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  • Type: letter
  • Publisher: Projeto Portinari
  • Rights: Raul Bopp
  • External Link: http://www.portinari.org.br
  • Number: 861
  • Collection Data Type: CO
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