CO-1419
Escola do Povo; Pinto, Carlos Alberto da Costa. [Comunicado, 1957 ou 1958], Rio de Janeiro, RJ [para] Candido Portinari, Rio de Janeiro, RJ. 3 p. [datilografado]
Prezado Senhor Conselheiro
Estamos enviando junto, uma cópia da resolução a que chegou o Conselho Técnico e Administrativo da Escola do Povo, ao qual V.S. pertence, em reunião realizada recentemente. Essa resolução, de acordo com o que ficou igualmente decidido, foi publicada em três jornais de grande circulação desta capital.
Devemos informar, também, que a repercussão dessa nossa atitude foi a melhor possível, não só mobilizando em nosso favor a opinião pública e de numerosos intelectuais honestos, como desramando o próprio inimigo, como o prova a suspensão, pelo menos temporária, dos ataques caluniosos que vinham sendo publicados contra nós.
Sem mais, reafirmando que continuaremos a dedicar à Escola do Povo as melhores de nossas energias, subscrevemo-nos
Costa Pinto
Pela Direção
O Conselho Técnico Administrativo da ESCOLA DO POVO, em face da violência policial de que foi vítima esta organização e das continuadas notas intencionalmente falsas publicadas na imprensa desta capital, resolve fazer o esclarecimento público que se segue, inclusive como preliminar das medidas judiciais acauteladoras que se tornarem necessárias.
Nascido do influxo de democratização criado pela derrota militar do obscurantismo nazista, o nosso movimento sempre visou estender às mais amplas camadas populares, economicamente desamparadas, os benefícios da educação e da cultura contemporâneas. Tendo à frente intelectuais como Artur Ramos, Amerino Wanick, Portinari, Pascoal Leme, Arnaldo Estrela, Oscar Niemeyer, Joracy Camargo e muitos outros, o movimento apartidário que resultou na fundação da ESCOLA DO POVO visava, como visa, organizar a contribuição voluntária e não remunerada dos intelectuais brasileiros na elevação do nível cultural do nosso povo.
Em grande parte, a despeito das dificuldades financeiras, esse objetivo vem sendo atingido, como o provam as mais de 5.000 matrículas já realizadas na escola, bem como a sua continuada atuação cultural e artística, que se tornou possível graças à generosa colaboração encontrada no meio intelectual das mais diversas tendências políticas, e ao crescente apoio conquistado pela ESCOLA DO POVO no próprio seio de seus alunos e interessados diretos na subsistência da útil organização.
A ESCOLA DO POVO, no seu processo de consolidação como instituição cultural, obteve, também, o registro de sociedade civil no cartório competente e como escola no Departamento Geral de Educação da Prefeitura, sendo beneficiada com quatro subvenções oficiais, duas federais e duas municipais. No momento, a direção da ESCOLA DO POVO programou a instalação de suas instalações materiais, de modo a poder atender com eficiência à corrente sempre crescente de candidatos aos seus cursos gratuitos.
Apoiados na Constituição e nas garantias democráticas que ela assegura, os homens de pensamento que fazem parte do Conselho Técnico Administrativo da ESCOLA DO POVO vêm as crescentes calúnias e ameaças contra a instituição como um ataque à liberdade de pensamento e ao progresso cultural do povo brasileiro. Um tal movimento, de idealismo sem precedentes entre nós, não poderá ser caluniado e violentado impunemente, sem que os próprios alicerces da democracia e da legalidade em nosso país sejam duramente afetados.
O Conselho Técnico Administrativo da ESCOLA DO POVO, prestados esses esclarecimentos, reafirma a decisão de continuar contribuindo, na medida de suas possibilidades, para a elevação do nível educacional e cultural de nosso povo, certo de que participar, desse modo, do grande esforço nacional que objetiva o progresso, a independência e a grandeza da Pátria brasileira.
O Conselho Técnico Administrativo da ESCOLA DO POVO é composto dos seguintes membros:
Afonso Vieira da Silva – musicista; Alfredo Eugenio Vervloet – médico; Amerino Wanick – egenheiro; Antonio Figueiredo – gráfico; Atahyde Nogueira – advogado; Antonio Patrocínio de Lima – operário; Candido Portinari – pintor; Carlos Alberto da Costa Pinto – jornalista; Alara Galvão – professora; Claudio Santoro – maestro; Edson Carneiro – escritor; Eduardo Galvão – antropologista; Eliseu Maia – escritor; Emílio Carrera Guerra – escritor; Eudoro Prado Lopes – engenheiro; Fernando Segismundo – jornalista; Graciliano Ramos – escritor; Honório Peçanha – escultor; Haroldo Pinto – estudante; Julio Drebchinsky – violinista; Luciano Mauricio – pintor; Maria Elisa Sampaio Lacerda – professora; Marina Roxo Dutra da Fonseca – professora; Moisés Xavier de Araújo – educador; Myrian Fineberg – química; Orlando Bulcão Viana – advogado; Oscar Niemeyer – arquiteto; Pascoal Leme – educador; Pedro Borges – médico; Quirino Campofiorito – pintor; Rangel Mendes Moreno – comerciário; Reginaldo Guimarães – médico; Regina Gandelman – estudante; Solano Trindade – poeta; Aladir Custódio – pintor.
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