CO-4511
Portinari, Candido. [Carta] 1946 jun. 6,
Paris [para] Graciliano Ramos, [s.l.]. 2 p. [manuscrito]
Caro Graciliano
Isto aqui é um outro mundo. Nós somos quase que desconhecidos e a culpa (dos governos) é nossa, gastamos dinheiro em tudo menos numa boa propaganda. Eles aqui não têm tempo de andar correndo atrás dos outros, sobretudo porque estão habituados ao contrário – todos correm para aqui.
Além disso, eles se interessam pelos seus problemas, onde todos tomam parte – cada um no seu setor trabalhando para o mesmo fim – mas sem folga.
Tomei parte no 1º Congresso do pensamento francês a serviço da paz – coisa organizada pelos nossos companheiros daqui. Tomaram parte escritores e intelectuais de todas as correntes. Ouvi o [ilegível] Thorez. Há diariamente centenas de coisas que a gente tem de saber escolher. Seria preciso a gente se desdobrar em 50 indivíduos para poder assistir a tudo. Não tenho tido tempo para nada. Minha exposição ficou para Outubro porque os quadros só sairão na próxima semana e agora o pessoal sai de Paris.
Ainda estou meio tonto para fazer afirmativas e talvez, com o tempo, o que estou dizendo tenho de refazer a opinião.
Em todo caso, não quis deixar de mandar notícias para você, agora que tenho portador, pois tenho medo de mandar pelo correio e que não chegue. Maria escreveu para a família várias cartas e não chegaram.
Qualquer coisa que V. queira daqui é só
escrever.
A turma pergunta pelo [ilegível] Prestes e os escritores por você – mas os livros não chegam aqui.
Lembrança da Maria para V. e todos os seus. Do seu velho
Portinari
End: Hotel Vernet
25, rue Vernet.