CO-2598
Leão, Josias. [Carta] 1940 ago. 20,
Chicago, IL [para] José Jobim, Rio de Janeiro, RJ. [datilografado]
Meu caro Jobim:
Antes de qualquer solução, peço a vocês para examinarem bem o contrato. E verificarem que ele não evita que Portinari faça novos álbuns, contanto que os ofereça antes, para publicação, à Universidade de Chicago.
Ainda desejo esclarecer que antes de entrar em entendimento com a Universidade consultei onze firmas editoras, que se negaram a fazer a edição. Consultei também o Instituto de Arte, que gostou das pinturas, mas que não desejava arriscar. A Universidade aceitou, mas exigiu de mim documento em que me responsabilizo pelo resultado da edição. Mandei dizer isso a você antes, pedindo-lhe que nada dissesse (escrevesse) à Ruth, a fim de que ela não se alarmasse com a enormidade da obrigação. Estou esclarecendo isso a fim de que você não continue a pensar que é coisa fácil de organizar edição aqui, sobretudo do caráter da que estamos organizando.
O contrato, à primeira vista, parece mais sério do que realmente é. Ele permite a Portinari fazer outros álbuns e se exige autorização para reprodução, em cada caso, é porque de outro modo a Universidade ficaria sujeita à possibilidade de uma ação de indenização. Você deve compreender que não é também brincadeira empatar 7.500 dólares numa edição,embora já haja 500 exemplares vendidos, não ao preço de $7.50 mas ao preço de $5.00.
Repito que não vejo como Portinari pense em fazer, dentro de muito pouco tempo, outro álbum utilizando as mesmas fotografias. Se o prestígio dele crescer tanto que se torne necessário novo álbum, é o caso então de usar novas fotografias, de quadros que ele continua a pintar tão fabulosamente. Ou de reeditar o que está sendo tirado agora, dessa vez cabendo a Portinari 15% sobre o resultado. Você achou a coisa excessivamente comercial. Mas os 15% valeriam como indenização pelas despesas que ele teve, com as 100 fotografias que serão reproduzidas. Um álbum como o que vai sair, custando mais de duzentos contos, é coisa que não se pode fazer de vez em quando. E que não se faz. Depois, meu caro Jobim, vocês precisam de ver que as precauções da Universidade são contra o que poderá vir a acontecer. Nós não estamos no Brasil, que é país excelente mas em que direitos autorais não existem. Uma só ação poderia fazer a Universidade perder até 20.000 dólares – o que certamente não teria graça. Além disso é preciso notar que a edição – feita pela Universidade – traz atrás de si irradiações sobre o pintor, conferências, filmagens. Não estou dizendo isso para convencer vocês da excelência do contrato, mas para esclarecer circunstâncias que são imperativas.
Enfim, seu Jobim, o negócio já está ultra chato. Eu estou, como já disse, disposto a perder os 6:100$ a até mesmo mais para dar a vocês oportunidade de reorganizar a coisa mais avisadamente. Foi pena que não o tivesse feito antes.
Mandem as suas instruções sem perda de tempo e abrace você o seu
Josias Leão