CO-1064
Almeida, Rosalita Mendes de. [Carta] 1929 dez. 18, Rio de Janeiro, RJ [para] Candido Portinari,
Paris. 4 p. [manuscrito]
Até que afinal você resolveu se lembrar de mim. Eu já estava com tanta saudade de suas cartas, e com tanta tristeza de pensar que você talvez nunca mais fosse mandar notícias.
Soube que esteve em
Londres por um amigo seu, mas até hoje ainda não chegaram às minhas mãos as cartas que você diz ter mandado de lá. É provável que se tenham perdido na entrega do correio d’aqui do Rio.
Sua carta de 21 de novembro está aqui perto de mim, para me entristecer e me deixar cheia de curiosidade. Você me dará um grande prazer se puser imediatamente no correio todas as coisas escritas para mim e que estão esquecidas na gaveta, para serem lidas não sei quando.
Portinari é agora, mais do que nunca, que eu preciso de conselhos, de saber como devo pintar, as tintas que devo empregar e quais os quadros a serem estudados. Enfim, tudo aquilo que você me fala na sua carta, seria muito oportuno nesse momento, onde todos que me rodeiam só me fazem desanimar, só tratam de me convencer que “essa coisa de arte é uma tolice...”, “que eu estou me enterrando viva com a mania de ficar os dias todos estudando pintura” etc. etc.
Por aí você bem pode avaliar em que triste ambiente eu me encontro.
Portinari, gostaria que você me mandasse suas opiniões sobre tudo quanto tem visto: de Londres, que eu ainda não sei se você gostou, de Paris, do Salão de Outono e, principalmente, suas preferências em arte.
Mas é que, infelizmente, você reserva as melhores impressões de sua alma para seus amigos... a mim, você nunca me manda dizer essas coisas... porque?
Acabei uma cabeça para lhe mandar; depois, pensando bem, achei que era ridículo isso e resolvi não mandar.
Portinari você me escreva sempre para eu não desanimar pois devido às influências que me cercam estou quase desistindo de pintura.
A carinha que você me mandou está tão triste, mande outra mais alegre.
Uma profunda saudade, muito grande mesmo, e muito carinho de
bichinha
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