CO-1914
Portinari, Candido. [Carta, 1947 maio],
Rio de Janeiro, RJ [para] Jayme de Barros; Marina de Barros, [
Paris]. 4 p. [manuscrito
Caros Jayme e Marina
Poderia dizer que só agora acabo de cegar ao Rio, vindo daí, pois assim que chegamos aqui, embarcamos para São Paulo. A campanha foi de um mês e a espera da apuração, quase 2 meses.
A estas horas vcs já devem saber qual foi o resultado. Foi uma surpresa geral, porque na véspera do resultado final estávamos na dianteira de 41 mil votos. Estou ainda sem poder compreender. Na capital tive 171 mil votos contra 49 mil. No interior, em algumas cidades, também estive na frente, como Santos – 20 mil votos contra 8 mil; Sorocaba - 8 mil contra 3 mil; Araçatuba – 3 mil contra 300. É claro que não foi assim em todas as cidades do interior; em todo o caso o que causou espanto foi a transformação de posição, em um dia. Entramos com recurso, por havermos verificado enganos; o recurso ainda não foi julgado.
No período da apuração passei em Brodowski pintando. Já tenho trabalhos que dariam para uma nova exposição.
Os novos quadros ainda estão na alfândega; chegaram quando me encontrava em Brodowski e – pagos – não sei se vcs têm recebido. Daí tenho recebido revistas e jornais que falam em mim. “Europe”, mas de Dezembro, “Quadrige”, “Poésie 47” e outras. Da Galerie Charpentier não recebi nada, nem mais um recorte; e, no entanto, ficaram de me mandar – faria empenho em ter as críticas países. A Galeria deve ter recebido, pois eles disseram-me que é costume receber as críticas de todos os países.
O quadro que V. escolheu tenho muito prazer em oferecê-lo a V., como uma pequena lembrança.
Agradeço mais uma vez todo o trabalho que V. teve com todas as minhas coisas. Recebi as cartas, as contas e tudo que V. mandou.
Temos nos lembrado constantemente de Vcs, com muitas saudades.
Todos mandam lembranças, inclusive o Barata.
Abraços do seu velho
Portinari
Tive convite da América e da Argentina, mas não sei se irei. A viagem à Fraança deixou-me sem nada.
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