CO-183
Amado, Jorge. [Carta] 1948 jun. 2, Praga [para] Candido Portinari,
Montevidéu. [datilografado]
Meu caro Portinari
Já lhe havia escrito uma carta anteriormente. Recebeu? Ontem recebi seu telegrama e hoje lhe passei um. Mais detalhadamente lhe ponho a par da situação; a semana passada foi a semana das eleições e o Ministro de Informações não era encontrado aqui. Só hoje foi possível falar com ele sobre o assunto, mostrar-lhe o seu primeiro telegrama e dizer do segundo. Imediatamente ele transmitiu as ordens necessárias para você ser convidado. Estive, após, com a repartição encarregada e eles me disseram que o convite será feito o mais rapidamente possível, mas que isso sempre leva alguns dias, no próprio trabalho burocrático. Agora dizem que andará muito mais rápido se eles puderem saber o seguinte:
1.º) É necessário que eles lhe paguem a sua viagem e dos seus, de Montevidéu para aqui?
2.º) Caso isso seja necessário, seria possível você fazer o pagamento aí para receber aqui, depois de chegar, ou não é possível?
3.º) Você se importa se o convite for inicialmente para “visitar” o país, sendo aqui, logo que você chegue, seu visto transformado em visto de residência permanente?
Dizem eles que, se for possível convidá-lo como visitante e pagando v. as passagens aí (para receber o importe aqui, depois ou não, conforme responda à 1ª pergunta), isso evitaria uma série de formalidades que demorariam um pouco a chegada aí do convite, pois se têm que lhe dar, desde o estrangeiro, um visto permanente, isso envolveria um trâmite junto ao Ministério do Exterior e outro junto ao Ministério do Interior; também se necessitam enviar para aí o valor das passagens, terão que fazer não sei que trâmites com o Banco Nacional. Pediram-me então que lhe fizesse urgentemente essas perguntas porque, respondidas elas, o convite partirá imediatamente.
Devo lhe informar que aqui a vida é muito fácil para o estrangeiro, especialmente o que tem boa posição política e que, por isso, não pode viver em seu país. V. gostará daqui e aqui se dará bem, tenho certeza. Aqui poderá continuar em paz sua grande obra de pintor do nosso povo.
Viajo amanhã para a Polônia, onde estarei sete dias, tratando da organização do Congresso Mundial de Intelectuais pela Paz, que se realizará em Varsóvia, de 25 a 28 de agosto, e para o qual v. vai ser convidado. Espero que então v. já se encontre na Tchecoslováquia. Responda-me para aqui:
Chez M. Jaroslav Kuchvalek
Praha, 1
Valentinská, 11
Thecoeslováquia.
Sua carta me encontrará de volta da Polônia e à base da sua resposta às perguntas que lhe faço, poderei lhe mandar uma informação exata sobre o tempo que demorará o convite, que penso será o menos possível, pois o Ministro deseja – e repetiu isso mais de uma vez – que v. possa vir quanto antes.
Zélia e João mandam abraços para v. e Maria. Abrace Rodolfo e Enrique Amorim, o Frangela, o Peloduro, o Jesualdo, todos os amigos e o seu companheiro, amigo e admirador certo
Jorge