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Borgerth, Oscar. [Carta] 1930 jul. 7, Rio de Janeiro, RJ [para] Candido Portinari, Paris. 2 p. [manuscrito]
Meu caríssimo Portinari
Afetuosas saudações.
Escrevi-te há dias um cartão, a desculpar-me ainda uma vez de não te ter escrito há mais tempo; faz hoje justamente um mês que aqui cheguei, tendo feito uma boa viagem, somente um pouco longa. Aqui chegando, fui muito bem recebido pela imprensa, que estampou retratos, entrevistas e notícias em quantidade; desta vez não posso me queixar di indiferentismo dos jornais; também, um artista brasileiro que chega da Europa, de Paris... Vê tu o que te espera... Começa, desde já, a
escrever as tuas impressões, porque senão não darás vazão às solicitações dos jornalistas.
Por enquanto, tenho andado um pouco retraído do meio artístico, e não me avistei ainda com todos os colegas; comecei há dias a estudar para os meus 2 próximos concertos , que se devem realizar no Municipal, no próximo mês de agosto. A temporada teatral e de concertos tem estado animada, talvez mesmo demais em relação ao nosso meio e, por isso, por conveniências pessoais e financeiras, vejo-me obrigado a retardar os meus concertos, que eu tencionava realizar imediatamente, para poder pensar em outras coisas. Ainda não apresentei, aos destinatários, as tuas cartas, o que, entretanto, farei em ocasião oportuna.
Quanto ao dinheiro que me emprestaste, penso fazer o seguinte: deve partir por estes dias, creio que pelo Bagé, para Paris, o pianista Arnaldo Rabello, que o Monteiro de Souza conhece bem, e eu penso aproveitar a sua partida para enviar-te os 200 francos que tão gentilmente puseste à minha disposição; sabes que os Bancos recusam-se a enviar quantia tão pequena (que ironia!) e então teria que recorrer ao cheque postal, mas ainda assim, em mão deve ir melhor, penso eu. Como vais aí, na beau
Paris? Tens pintado muito? Deves ter agora tudo pronto para expor no Salão das Tulleries, não? Já sabes que te desejo o mais retumbante sucesso. E o grupo – Botelho, Mariana, Alice, etc, tens visto? Dá sempre muitas lembranças minhas, assim como a todos os nossos amigos daí, que eu me escuso de enumerar, porque saberás distingui-los. Escreve-me também quando puderes, e recebe um abraço forte e sincero do amigo de verdade
Borgerth
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