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Eneias e Anquises fugindo da cidade de Tróia

John Cheere1756 -

Palácio Nacional de Queluz

Palácio Nacional de Queluz
Queluz, Portugal

Grupo escultórico em chumbo, representando a fuga do herói Eneias do saque da cidade de Tróia. Eneias, em trajes militares, carrega às costas seu pai Anquises, que leva consigo uma estátua de um Penates (deuses do lar considerados depositários e símbolo da “raça troiana”). Junto a ele estão também o filho Ascânio e a mulher Creusa. Esta composição baseia-se no trabalho do artista francês François Girardon, apresentando diferenças na figura de Anquises, Ascânio e Creusa.

A cena remete-nos para a Eneida, poema épico escrito por Virgílio no século I a.C, que relata a saga de Enéias, herói troiano filho de Vénus (Afrodite) e de Anquises, que escapara da guerra de Tróia por vontade de Júpiter (Zeus) carregando o seu velho pai com os penates, e seu filho, pela mão, com a missão traçada pelo destino de fundar uma nova Tróia, símbolo da futura Roma. Na fuga, Eneias consegue salvar o filho, mas não a sua mulher, cuja sorte depois da queda de Tróia varia conforme as tradições. Alguns autores fazem dela uma cativa, outros colocam-na entre os troianos que conseguiram fugir da cidade. Na versão de Virgílio, Creusa desaparece misteriosamente.

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  • Título: Eneias e Anquises fugindo da cidade de Tróia
  • Criador: John Cheere (1709-1787)
  • Vida do criador: 1709 - 1787
  • Nacionalidade do criador: English
  • Data: 1756 -
  • Local: Hyde Park Corner, Londres, Inglaterra
  • Original Title (portuguese): Eneias e Anquises fugindo da cidade de Tróia
  • Dimensões físicas: 157 (alt) x 60 (larg) x 40 (prof) cm
  • Sculptures by John Cheere: Os jardins do Palácio Nacional de Queluz apresentam o mais importante conjunto de estátuas em chumbo, fora do território inglês e reunido no mesmo espaço, do escultor britânico John Cheere (1709-1787), o que confere a este acervo uma grande importância no panorama artístico internacional. Irmão de Henry Cheere (1702-1781), também escultor, por volta de 1737-1738, John Cheere instala-se em Hyde Park Corner, zona londrina com tradição neste tipo de trabalho, destacando-se na produção de escultura de moldes em larga escala (chumbo, cobre, gesso e cerâmica). As esculturas de chumbo eram sobretudo utilizadas na decoração de jardins e fachadas dos edifícios de campo das elites inglesas, numa altura em que os jardins se adaptavam ao estilo de jardim à francesa, onde abundava a decoração escultórica. A fácil reprodução, os baixos custos e a qualidade dos acabamentos que o chumbo permitia incentivaram a grande procura das peças de Cheere. Por vezes as estátuas eram tratadas de modo a imitar mármore, outras eram pintadas com cores vivas ou parcialmente douradas, aumentando desse modo o seu efeito teatral. Assim, enquanto as figuras mitológicas eram pintadas para imitar materiais nobres como o mármore, o ouro ou o bronze, nas de temas pastoris ou da commedia dell’arte era aplicada pintura ao natural, de cores diversas, com especial atenção à indumentária. Em novembro de 1755 Lisboa foi atingida por um violento terramoto, acompanhado de um maremoto e de um devastador incêndio que provocou a destruição de grande parte da cidade com especial incidência na zona da Baixa. Apesar da catástrofe, as obras em Queluz não param e, entre 1755 e 1756, D. Pedro encomenda a John Cheere estatuária para decorar os jardins do Palácio de Queluz. A primeira encomenda (1755) é realizada através de D. Luís da Cunha Manuel (1703-1775), embaixador de Portugal em Londres, com a ajuda de D. Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), futuro Marquês de Pombal. A Lisboa chegaram 2 grupos (Meleagro e Atalanta e Vertumno e Pomona), 23 peças individuais (Neptuno, Meleagro, Mercúrio, Fama, Apolo, Diana, Baco, Vénus, Ceres, Flora, Gladiador, as 4 Estações do ano, 4 figuras da commedia dell’arte – Pierrot, Arlequim, Scaramouche e Colombina –, e 4 figuras pastoris – pastor, pastora, homem com tambor e flauta e mulher com ancinho) e 24 potes para flores. Com a remessa desta primeira encomenda, Cheere envia uma listagem de outras obras disponíveis para venda. A segunda encomenda (1756), maior que a primeira, teve por base esta relação de esculturas. Nesta ocasião seria D. Martinho de Melo e Castro (1716-1795), diplomata na capital britânica, o encarregado pelo acompanhamento do processo de compra e envio da nova encomenda, que integrava 7 grupos escultóricos (Rapto de Proserpina, Eneias e Anquises, Rapto das Sabinas, David e Golias, Caim e Abel, Vénus e Adónis, Baco e Ariadna), 6 figuras (Hércules, Meleagro, Atalanta, Justiça, Minerva e Marte), 16 animais (quatro macacos, quatro leões, quatro tigres, duas raposas, uma harpia e uma águia), 4 grupos furados para meio de tanques grandes e repuxos de água, 8 meninos para guarnecer cascatas, e 48 vasos pintados de bronze e ouro, num total de 89 peças, entre grupos escultóricos, figuras formando conjuntos e figuras isoladas. Este colossal número de estátuas de chumbo fez parte integrante de um grandioso e colorido conjunto ajardinado sob a orientação do arquiteto e ourives francês Jean-Baptiste Robillion (1710-1782), discípulo e colaborador do célebre ourives Thomas Germain. Os inventários do Palácio de Queluz atestam como algumas peças mudaram várias vezes de lugar nos jardins, enquanto outras tiveram que esperar alguns anos – após terem sido recebidas e se ter aferido a sua qualidade – até que fosse escolhido o local mais adequado para a sua implantação. De facto, a sua localização nos jardins foi mudando à medida que estes eram ampliados e novos esquemas ornamentais e funcionais eram introduzidos. Das encomendas de 1755 e 1756, muitas esculturas se perderam, transferidas para outros jardins, fundidas para material bélico, roubadas impunemente ou gradualmente arruinadas sem reparação possível. O conjunto ainda in situ nos jardins do Palácio de Queluz constitui uma prova da qualidade da obra de John Cheere e do reflexo do gosto requintado e erudito de D. Pedro, em consonância com o gosto europeu de meados do século XVIII. A obra escultórica de Cheere - influenciada pelos Jardins de Versalhes e pelas obras de referência na altura da Antiguidade e da Renascença - recolhe temáticas provenientes de várias fontes, da mitologia greco-romana a figuras retiradas da commedia dell’arte, bem como personagens pitorescas do quotidiano rural, a par de animais exóticos. A sua inspiração revela-se numa produção onde sobressai a cuidada reprodução anatómica e a adaptação dos modelos utilizados. Entre 2005 e 2009, o conjunto estatuário da autoria de John Cheere, expressão do carácter inovador e da alta qualidade da escultura britânica do século XVIII, foi objeto de profundas intervenções de conservação e restauro promovidas pela World Monuments Fund (Britain e Portugal). A recuperação dos lagos e fontes foi um projeto que se estendeu até 2010.
  • Rights Information: National Palace of Queluz
  • Photo: Carlos Monteiro, 2011.
  • Material(s) / Technique(s): Chumbo
  • Image Rights: © Direção-Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica
  • Tipo: Escultura, escultura de jardim
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