Anico Herskovits, Iberê e Marta Loguercio no MAM Atelier de Litografia

"Nós já tínhamos o Atelier MAM (Marta, Anico, Maria) em atividade quando veio de São Paulo o impressor Otávio Pereira, que chegou a fazer conosco um álbum do Scliar. Foi ele quem trouxe Iberê para imprimir em nosso ateliê, por volta de 1986. Depois de algum tempo, ele foi embora da cidade, mas Iberê continuou a trabalhar conosco, pois criou confiança. Ele morava perto, a duas ou três quadras do nosso ateliê, e produzimos para ele cerca de 38 litografias.
No começo, Iberê fazia a litografia direto na pedra, mas tivemos que pensar em uma alternativa. Embora seja possível reabrir a pedra umas duas ou três vezes, com Iberê isso era complicado, porque ele nunca ficava satisfeito e raspava tanto o material que ele não aguentava. Naturalmente, essa atitude tinha a ver com a inquietude obsessiva do trabalho dele, mas o resultado era que a pedra era massacrada, o grão estourava, entupia a tinta, não dava certo....
Então nós sugerimos a ele usar a técnica do papel-transporte. Assim, ele desenhava em casa, no papel, e a gente passava para a pedra. Depois ele olhava a prova, e, se necessário, abríamos a pedra novamente, e retocávamos o que ele queria, mas aí era pouca coisa. Nesse processo, saíram aquelas gravuras lineares, que são muito expressivas. Nossas sugestões eram apenas técnicas, porque ele já tinha seus conceitos e ideias. Quando ele pensava numa cor, nós imprimíamos alguns tons diferentes e levávamos à casa dele para que ele escolhesse. E Iberê sempre gostava de mostrar para Maria e ouvir a sua opinião. Ele ficou vários anos trabalhando com a gente, a última gravura dele no ateliê é do início de 1990."
Depoimento de Marta Loguercio e Anico Herskovits em fevereiro de 2020 para a exposição Iberê Camargo – O Fio de Ariadne.