Não sabemos onde foi pintado este quadro que, na exposição das obras de Silva Porto realizada em 1894, no ano seguinte ao da sua inesperada morte, foi considerado "por concluir". Não se entende porquê, uma vez que, embora não assinado (como tantos outros, vendidos nessa ocasião), ele é um registo inteiro do motivo cativante que atraiu o pintor, manifestando o melhor do seu estilo: a pincelada rápida e solta, a articulação orgânica entre o chão e o céu, o gosto de recriar a vegetação rala, rente ao solo, em manchas sensíveis que usam a cor em valores tímbricos, interrompidos pela pontuação breve de um vermelho. No plano intermédio, deslocado para a esquerda do centro da composição, a figura da árvore ergue-se com maior intensidade volumétrica mas é, mesmo assim, um corpo aberto à sua inscrição na atmosfera. À volta, outras árvores menos imperiosas, estabelecem um lonjura ritmada que se verticaliza no jogo claro das nuvens.
Pintura de impressão, realizada sobre o motivo, ela evoca a fidelidade de Silva Porto à estética naturalista que não desconhecia alguns dos adquiridos do impressionismo, apropriando a realidade através da autonomia do pictórico, e gerando assim um real outro: uma espécie de poesia feita de cor e de luz.
Raquel Henriques da Silva