Aguamanil

Algumas peças expostas, que poderão ter tido uma utilização litúrgica, em nada se distinguem das peças de uso profano. É o caso das salvas de prata, usadas para fins litúrgicos ou mesmo eucarísticos (como suporte de galhetas ou recetáculo de hóstias não consagradas), mas igualmente num contexto doméstico, e dos gomis e lavandas, usados na missa para o ritual da lavagem das mãos, mas também no ritual profano da mesa, onde a lavagem das mãos pressupunha a existência de objetos idênticos.
Uma das peças mais notáveis da coleção é sem dúvida o aguamanil em prata dourada, de meados do século XVIII, usado possivelmente para conter a água utilizada nas abluções litúrgicas. É um belo exemplar do estilo barroco, produzido numa época de abundância e ostentação, comum à sociedade religiosa e profana, onde se fez sentir entre nós a influência artística francesa e sobretudo italiana. Nesta época, é determinante o estímulo das peças importadas de Roma, com uma composição de ourivesaria mais “escultórica” e mais profusamente ornamental, de sólida tipologia barroca, que é recebido com grande aceitação no nosso País, e rapidamente domina o gosto nacional.
O aguamanil em questão apresenta um marcado carácter escultórico, uma grande densidade de motivos decorativos e uma estabilidade relativamente pesada, que são características da ourivesaria joanina. O bico diferenciado do corpo, em forma de cabeça de ave, as linhas caprichosas, a decoração exuberante da asa, definida por volutas e rematada por uma cabeça de carneiro, os mascarões e festões relevados no corpo, envolvidos por volutas e entrelaçados, fazem desta peça um exemplar único. Esteve ao serviço do Bispo D. Júlio Francisco de Oliveira (1740-1765), pois ostenta o seu brasão na base.