Essa obra pertence a um conjunto de 30 peças do artista multimídia Otávio Roth (1952-1993), que expressam graficamente o conteúdo da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). As obras foram produzidas em pulp painting e guache, sendo cada peça impressa em papel artesanal confeccionado pelo próprio artista. Movido pelo desejo de democratizar o acesso à Carta, Otávio Roth sintetizou sua mensagem em obras gráficas que facilitam a compreensão e memorização de seu conteúdo.
Roth foi o primeiro artista convidado a expor em vida nas Nações Unidas. Suas gravuras estão em exposição permanente nas sedes da ONU em Nova Iorque, Genebra e Viena desde 1981. Além da série em inglês (xilogravura) e português (técnica mista), o artista produziu outras séries em japonês, francês, espanhol, norueguês e dinamarquês, em técnicas diversas como crayon e aquarela.
Descrição da obra
Quadro retangular na vertical, com fundo branco. Acima o desenho estilizado de uma pessoa marrom retirando um pedaço de uma bandeira azul hasteada, como se fosse uma fatia de pizza. Abaixo do desenho, a transcrição do artigo 15 da Declaração Universal dos Direitos Humanos em letras magenta, roxas e azuis: "1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade."
Sobre o Artigo 15
Nos arredores de Ho Chi Minh, um idoso revelou que esperava, quando morresse, receber um certificado de óbito para provar que um dia havia existido. Como apátrida, ele não existiu legalmente durante os 35 anos que viveu no Vietnã, sendo incapaz de ter propriedade, matricular seus filhos na escola ou até mesmo comprar uma motocicleta. Ex-refugiado do Camboja, ele caiu em um limbo legal por não ter tido a possibilidade de desistir da nacionalidade cambojana para obter a vietnamita, uma vez que o Camboja havia anulado sua cidadania. Felizmente, em 2010, o Vietnã concedeu cidadania para cerca de 6 mil pessoas nesta situação. A maior parte das pessoas do mundo toma como garantido o direito à nacionalidade, reconhecido no Artigo 15 da Declaração. Mas, no mundo todo, cerca de 3,9 milhões de pessoas estão oficialmente sem nacionalidade. A Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) estima que o número verdadeiro possa ser três vezes maior. Elas sofrem profundamente, condenadas a uma vida sem esperança e marginal, assim como seus filhos, condenando gerações à apatridia.