Raras vezes se encontra na azulejaria portuguesa uma figuração feminina tão graciosa como esta representação de Atena ou Minerva, deusa que na Antiguidade Clássica personificava a Sabedoria, as Artes e a estratégia que preside à guerra. Composto como se se tratasse de um retrato de vulto, em dimensão maior que o natural, o painel remete para uma das expressões da imagem de aparato muito em voga no período barroco. A impositiva moldura simulando pesada talha que, sem dificuldade, imaginamos dourada, integra no remate três serafins, numa fusão de elementos ligados ao culto católico, assim associados a uma imagem pagã da mitologia antiga. Circunscrita por este emolduramento, a deusa observa-nos, numa postura de guardiã, quase como se de uma "figura de convite" se tratasse, com o seu papel de protetora acentuado pelo escudo com a cabeça da outrora bela Medusa, cuja mirada transformava em pedra aqueles que com ela cruzassem o olhar. Ainda que o local a que se destinava seja hoje ignorado, tudo parece indicar que o painel se encontraria na entrada ou em destaque no espaço, numa quase evocação da Fortitude, virtude cristã que, por vezes, se assemelha a esta figura. São conhecidos conjuntos de painéis deste período em que podemos observar personagens de grande dimensão, também elas enfatizando um aspeto ilusionista na sua representação e colocação. Entre elas contam-se as oito heroínas do Antigo Testamento (Rute, Raquel, Ester, Judite, Abigail, …), colocadas nas janelas do Coro Alto do Convento da Madre de Deus, parte integrante do Museu Nacional do Azulejo, e os quatro painéis que compõem a entrada da Capela do Museu da Pólvora Negra, em Barcarena, nos arredores de Lisboa. Estes últimos, também pertencentes à coleção do Museu Nacional do Azulejo (Inv. 6938 Az), encontram-se em depósito neste local, onde estavam aplicados, ainda que não seja esse o seu espaço de origem. No entanto, ao invés do que ocorre com a figura de Atena, totalmente circunscrita pela moldura que a enquadra, as imagens dos santos em Barcarena (Santa Catarina de Alexandria e os Santos André, Adriano e António) e das mulheres bíblicas, ainda que colocadas como se de esculturas se tratassem, em cima de pedestais, procuram sair do confinamento das suas molduras. Deste modo elas procuram contrariar a sua dimensão estática, procurando entrar em contacto mais direto com o espaço real e, deste modo, tentar assegurar para si esse estatuto dinâmico de "figuras de convite".