Representação de uma audiência do imperador ou pelo menos da sua representação imaginada pelo pintor, destaca-se a figura do soberano, envergando uma veste imperial, normalmente de seda ricamente bordada e tendo como motivos decorativos, entre outros, a representação de dragões e nuvens. O dragão, animal sobrenatural, simbolizava a Primavera e a fertilidade, uma vez que era ele que trazia a chuva. Emblema de vigilância e salvaguarda, o dragão personificava o imperador e era muitas vezes associado à ideia de felicidade. Neste exemplar os vários dignitários envergam o típico chapéu oficial de corte que era utilizado no Inverno, o chaoguang, redondo (por oposição ao chapéu oficial de corte utilizado no Verão, de formato cónico) decorado com peles de animais (ex: coelho) e jóias (rubis, safiras, cristal-de-rocha, metal dourado ou outros materiais a imitar estas mesmas pedras), que davam informação acerca da riqueza e do status do seu utilizador.
A complementar a decoração do chapéu, estava a utilização de penas de pavão, na parte de trás, sobre o pescoço, símbolo do prestígio e dos meritórios serviços prestado à coroa.
Ao pescoço ostentavam o colar da corte manchu (chaozhu), vulgarmente conhecido por colar de mandarim, que deriva de um mala. Consiste num conjunto de cento e oito contas, dividido em quatro conjuntos de vinte e sete, por contas mais largas chamadas cabeças de Buda (fuatou), e constituído por um longo pendente que caía sobre as costas do seu utilizador e servia de contrapeso. Outros três pendentes de dimensões mais reduzidas (shuzhu) caíam para a frente. As contas utilizadas nestes colares deveriam ser de pedras preciosas e semipreciosas, tais como o lápis-lázuli, o âmbar, o coral vermelho e a turquesa, embora haja exemplares com contas em vidro e metal esmaltado. Estes colares eram utilizados não só pelos homens da corte, mas também pelas mulheres. Outro acessório que complementava o vestuário masculino eram os sapatos (xie), cujo formato pode remontar à dinastia Zhou (1030 - 256 a.C.). A plataforma da sola, feita de várias camadas de feltro ou tecido de algodão, permitia aumentar a estatura do seu utilizador. As botas de cetim, de cor preta e sola alta de cor branca, eram tão caras que o seu valor de aquisição em 1865 podia ser equivalente ao salário anual de um criado.
A série de pinturas China Trade denominada “Palácios”, composta por onze ambientes, retrata diferentes cenas do quotidiano da vida de corte da dinastia Qing (manchu) e das classes mais ricas e poderosas da China, principalmente de altos dignitários, nomeadamente os mandarins, com recepção de convidados em momentos de lazer. Podem observar-se cenários diferentes de interiores de palácios dispostos a partir de um eixo central geralmente orientado no sentido Norte-Sul (no caso do Norte da China, em contraste com o Sul da China, em que a orientação era Leste-Oeste, de forma a adaptar-se às condições climatéricas destas latitudes) e exteriores.
Joana Belard da Fonseca in catálogo Presença Portuguesa na Ásia, Museu do Oriente, 2008, p. 389-391
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